23 de abr. de 2019

sobre pratos e louças

decidi fazer uns comentários em tom de brincadeira, isto depois de já ter passado algumas semanas a fazer feiras de velharias - possivelmente não se enquadram nos temas que trago para aqui, mas apeteceu-me...
comecei de novo a fazer estas feiras em primeiro lugar para me manter ocupada com outro objectivo para além de procurar emprego e pesquisar sobre mistérios, e em segundo lugar como uma forma de despachar tudo aquilo de que já não necessito, incentivar os meus amigos a fazer o mesmo, assim como a família; também tive a sorte de me deparar com um local abandonado onde as pessoas tinham "despejado" artigos que já não queriam, possivelmente depois de uma mudança - muitos deles estavam simplesmente partidos e teriam sido atirados para lá - acabei também por fazer uma amizade com o funcionário de um centro de recolha, um senhor muito simpático que já me arranjou também algumas peças; resumindo, apesar de não obter grandes lucros com as vendas tem sido uma actividade interessante, mais até pelo prazer da procura, da compra do que pela venda em si - e quando arranjo um prato ou uma jarra pintada, é impressionante que as pessoas não olham à peça em si, à sua beleza estética, à sua composição, e pegam sempre na peça em primeiro lugar de forma a ver se é Spal, Vista Alegre ou Sacavém - recordo até um belo prato de colecção que tive, com uma reprodução de um quadro de Botticelli, e que a pessoa que comprou afirmou inclusive que detestava a imagem, mas comprava por ser de 89 ou 90, já não me recordo, e que lhe faltava o prato desse ano... 
lembrei-me que esse é possivelmente o motivo da existência das belas cristaleiras com espelho atrás, nunca me ocorreu porque não é uma peça que existisse nos meus pais, eles não tinham grandes possibilidades para investir em louceiros,  mas certamente o objectivo do espelho será para possibilitar ao coleccionador poder ostentar a marca da peça...
apesar da minha formação em restauro e de amar tudo que é antigo, há aspectos do coleccionismo que não consigo entender, e penso até que em certa medida funciona como uma doença, semelhante à acumulação compulsiva, poderá até compensar pela falta de outras coisas essenciais na vida das pessoas como o amor ou a família; não entendo o objectivo de, por exemplo, ostentar uma cristaleira com louças, cristais e pratos de colecção quando de repente chega um terramoto e as peças poderão estragar-se... porque num ápice a vida dá uma volta, e podemos ter de deixar tudo para trás...