11 de nov. de 2019

Eugénio de Andrade - Ah, Falemos da Brisa (Ravel - Ondine, Gaspard de la Nuit)





Ah, Falemos da Brisa

Eu dizia:
"Nenhuma brisa é triste"
e procurava água, lábios,
um corpo

onde a solidão fosse impossível.

Mas quem sabe dessa música
cativa nos meus dedos?
E depois, como guardar um beijo,
mar doirado ou sombra
desolada?

Recordava um rio,
álamos,
o sabor nupcial da chuva,
tropeçava em lágrimas e soluços
e lágrimas, e procurava.

Como quem se despe
para amar a madrugada nas areias,
eu dizia: " Nenhuma brisa é triste,
triste", e procurava.

E procurava.



Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.


Danny Richardson
The Ripple Effect of Life & Death