12 de abr. de 2011

Extractos de "Os Animais Têm Alma", de Ernesto Bozzano



“O senhor Moldred Duke, conhecido sensitivo e autor de artigos bastante profundos sobre assuntos psíquicos, relata o seguinte facto que lhe aconteceu: Há alguns dias, fui levado a escrever até uma hora avançada e estava absorvido pelo assunto de que tratava quando fui literalmente invadido pela ideia de que a minha gata tinha necessidade de mim. Levantei-me e fui procurá-la. Depois de ter feito, inutilmente, a volta pela casa, passei para o jardim e, como a escuridão me impedia de ver, passei a chamá-la. Percebi um fraco miado à distância e, cada vez que eu repetia o meu chamado, o miado  respondia-me, mas a gata não apareceu. Voltei para casa, a fim de apanhar uma lanterna, e atravessei de seguida o quintal, dirigindo-me para um local de onde me pareciam vir os miados. Depois de algumas buscas, encontrei a minha gata numa cerca, presa por um laço estendido para coelhos, com os nós apertando-lhe o pescoço. Se ela se tivesse esforçado para se livrar dele, teria-se estrangulado. Felizmente teve a inteligência de não se mexer e de enviar, ao contrário, ao seu dono, uma mensagem de pedido de socorro, pelo telégrafo sem fio. Trata-se de uma gata a que sou muito afeiçoado e esta não foi a primeira vez que uma relação telepática se fez entre ela e eu. Há alguns dias, nós a supunhamos extraviada, pois não a encontrávamos em lugar algum, em vão chamando-a por toda a parte. De repente, por uma espécie de fotografia mental, eu vi-a prisioneira numa peça vazia nos entulhos da casa, peça que ficava quase sempre fechada. A visão era verídica. A gata, não se sabe como, tinha se fechado lá. Não tinha ela, porém, enviado, ainda desta vez, uma mensagem telepática para me avisar de sua prisão?”

“A sra. Joy Snell assim se exprime: Prince é um cão-lobo da raça russa. Ainda que não esteja mais no número dos vivos há vários anos, continuo a falar dele até hoje, pois, para mim, ainda está vivo e isto o sei positivamente já que vem sempre visitar-me, mostrando que tem por mim a mesma afeição do passado. Quando ele me aparece, olha-me com o seu olhar afectuoso, pousa a cabeça nos meus joelhos, balançando alegremente a sua cauda. Aconteceu-me encontrar pessoas que perceberam, por sua vez, Prince ao meu lado e fizeram uma descrição minuciosa apesar de nunca o terem conhecido em vida. Eram pessoas que possuíam faculdades psíquicas análogas às minhas, graças às quais o que não é normalmente visível pode tornar-se visível. Quando Prince ainda estava neste mundo, sua principal ocupação consistia em acompanhar a sua dona nos seus passeios a pé ou de carruagem. Numa tarde de Verão, voltei com o cão para casa, depois de uma longa excursão. Duas horas depois, Andy, o rapaz da cavalariça, veio prevenir-me de que o canil de Prince estava vazio e que não se via o cão em parte alguma. Prince nunca havia faltado, de modo semelhante, aos seus hábitos regulares. Andy mostrava-se preocupado e foi imediatamente à procura do cão, mas eis que Prince apareceu, saltando por cima da cerca, e veio ao nosso encontro balançando a cauda. Depois de ter manifestado a sua satisfação de não ter sido punido, ele me puxou levemente pela sala, em direcção à porta e, lá chegando, levantou-se sobre as patas traseiras e, apoiando as dianteiras na porta, começou olhar-ma e a latir. Como repetisse várias vezes a mesma cena, compreendi que ele queria que o seguisse a alguma parte, de modo que o rapaz da estrebaria resolveu contentá-lo. Abriu então a porta, chamando por Prince, mas este me puxou novamente pela sala, fazendo-me compreender que ele queria que eu fosse também. Eram nove horas da noite e nós pusemo-nos em marcha, os três. Prince seguiu a estrada por algum tempo, depois do que penetrou nos campos, correndo sempre diante de nós, e parou a uns cinquenta metros adiante para nos esperar. Depois guiou a nossa marcha durante mais de duas milhas. Chegamos finalmente a um fosso rodeado de uma cerca, numa abertura após a qual se encontrava uma pilha de fetos. Lá, o animal deteve-se, esperando a nossa vinda, e, ao mesmo tempo, olhando-nos com uma expressão de estranha ternura. Era evidente que tinha chegado ao fim, onde havia algo de misterioso que queria mostrar-me, entretanto não podia encontrar uma explicação por que não tinha anunciado, balançando a cauda, a nossa chegada, mas logo depois, compreendi a razão do seu silêncio. No monte de fetos estava deitada, profundamente adormecida, uma criancinha de cerca de três anos. Se Prince tivesse balançado a cauda por certo a teria acordado e espantado. Agora, eis como se explicou o estranho facto de uma criancinha adormecida num cercado. Ela havia brincado toda a tarde no prado, com um grupo muito numeroso de outras crianças, enquanto os camponeses retornaram na sua carroça para a herdade, sem se aperceberem de que, naquele bando de crianças, faltava uma. Levei a criancinha aos seus pais que me agradeceram, chorando e beijando-me. Esse gesto magnífico de Prince tornou-o famoso em todo o país. Pensativa, eu questionava-me, perplexa: “Como pôde Prince descobrir a criança adormecida?” As circunstâncias nas quais a descoberta se deu mostram que não se trata de um acaso, pois eu não podia imaginar coisa alguma, mas, agora, depois de anos, já não acontece o mesmo. Eu sei, agora, que os cães – ou pelo menos certos cães – são dotados de faculdades psíquicas e podem perceber os espíritos dos mortos. Segundo penso, na tarde em que Prince saiu à procura da criancinha extraviada, ele foi levado a agir assim por alguma entidade espiritual percebida somente por ele, como acontece nos casos de pessoas dotadas de faculdade de clarividência. Essa entidade deve ter guiado o animal até ao cercado onde a criança dormia e a inteligência e o instinto do cão fizeram o resto. O pobre do Prince teve uma morte violenta, e, provavelmente, sem sofrer. Andy, o moço da cavalariça, indo à estação dos caminhos-de-ferro, levou-o para fazer um passeio. Prince foi encontrado esmagado por um comboio que chegava. Naquele momento, eu lia ao lado da lareira e, acontecendo-me olhar por cima do livro, vi Prince estendido com todo o comprimento do seu corpo sobre o capacho, e eu exclamei: Já de volta, Prince? Isto dizendo, estendi a mão para acariciá-lo, porém ela não encontrou resistência, só o vácuo: Prince tinha desaparecido. Naturalmente conclui que fora vítima de alguma imaginação de maneira estranha, mas uma hora depois Andy chegava trazendo a triste notícia. Quando Prince me apareceu foi pouco depois do instante em que foi a esmagado pelo comboio.”

“Uma das minhas amigas de estudo fora à Índia como medica. Perdemo-nos de vista, mas sempre gostamos uma da outra. Certa vez, na noite de vinte e oito para o dia vinte e nove de Outubro (eu estava então em Lausanne, Suíça), fui despertada antes das seis horas por pequenas batidas na minha porta. Meu quarto de dormir dava para um corredor que terminava na escada do andar. Eu deixava a porta do meu quarto entreaberta para permitir que um grande gato branco que eu então tinha fosse caçar durante a noite (a casa formigava de ratos). As batidas repetiram-se, mas a campainha da noite não havia tocado e eu não ouvi ninguém subir a escada. Por acaso, meus olhos caíram sobre o gato que ocupava o seu lugar habitual ao pé de minha cama e ele estava sentado, com o pelo eriçado, tremendo e rosnando. A porta moveu-se como se agitada por um leve golpe de vento e eu vi aparecer uma forma envolvida numa espécie de tecido vaporoso branco como um véu sobre uma roupa escura, mais não pude distinguir bem o rosto. A forma aproximou-se e eu senti um sopro glacial passar por mim, ao passo que o gato rosnava furiosamente. Instintivamente fechei os olhos e, quando os reabri, tudo havia desaparecido. O gato tremia por todo o corpo e estava banhado de suor. Confesso que não pensava na minha amiga da Índia, mas em outra pessoa. Cerca de quinze dias mais tarde, soube da morte de minha amiga na noite de vinte e nove para o dia trinta de Outubro de 1890, em Shrinagar, Cachemira. Soube depois que havia sucumbido a uma peritonite.”

“O sr. William Ford, residente em Reading, Inglaterra, escreveu, nos seguintes termos, à Revista Light (1921, pág. 569): Na minha mocidade, eu possuía um cão pastor de raça cruzada e cauda curta, que fora destinado a reunir e guiar os carneiros e os bois. Havíamos passado juntos bons dias felizes na fazenda paterna, mas chegou o dia em que os negócios nos obrigaram a deixar a casa e o meu cão foi dado a um velho fazendeiro que residia perto de Maidstone. Logo, ele e o cão tornaram-se amigos inseparáveis e, onde o homem fosse, o animal o seguia, amizade enternecedora que durou três anos. Certa manhã, o velho fazendeiro não se levantou à hora habitual e seu filho foi ver o que podia significar essa infracção aos costumes paternais. O velho, com a maior calma, anunciou que a sua hora era chegada e pediu que lhe trouxesse o cão, que ele queria ver mais uma vez antes de falecer. O filho tentou persuadir seu pai dessa afirmação, que, para ele, era o produto de uma lúgubre fantasia, mas, como sua insistência contrariasse o velho, foi buscar o cão e levou-o ao seu pai. Logo que o animal entrou no quarto, pulou para cima da cama e começou a agradar o velho dono, para, pouco depois, se retirar para um canto e começar a uivar lamentosamente. O animal foi levado para fora, acariciado, mas nada conseguia confortá-lo ou fazê-lo calar. Acabou por se retirar para o seu canil e entregar-se a um abatimento tão profundo e tão desesperado que morreu às oito e meia da noite. O seu velho dono seguiu-o na morte, falecendo às dez horas.”

“O incidente que relato é de data recente e eu só me decido a publicá-lo porque estou bem certo da sua autenticidade, quaisquer que sejam as conclusões que se possam tirar dele. Aconteceu com uma dama das minhas amizades que é dotada de faculdades mediúnicas, embora nunca se tenha preocupado em desenvolvê-las. Acrescento que conheço pessoalmente as circunstâncias que levaram a referida senhora ao meio em que o facto aconteceu. A narração que reproduzo foi escrita e assinada pela mesma, cujo nome só posso indicar pelas iniciais N. Y. Z. Eis o que ela escreveu: Tendo chegado subitamente do estrangeiro, tive necessidade de alugar um quarto mobilado numa velha casa de Londres e não tardei a aperceber-me que estava infestado de ratos que ali produziam, durante a noite, ruídos de todas as espécies, correndo pelo soalho e lançando gritos estridentes. Para me proteger desses hóspedes tão indesejáveis, arranjei emprestada uma bela gata que me pareceu logo feliz em se encontrar na minha companhia. Gosto muito da raça felina e a dita gata correspondia bem à minha afeição; dormia na minha cama e colocava as suas patas dianteiras em torno do meu pescoço, roncando tão fortemente que me impedia de dormir. Infelizmente a gata ficou doente e, certo dia, entrando no meu aposento, às dez horas, encontrei-a morta, para minha grande e dolorosa surpresa. Nessa mesma noite, os ratos recomeçaram os seus divertimentos e eu resolvi acender o gás e me pôr a ler, não ousando dormir com tal companhia, mas o depósito do contador do gás estava quase esgotado e às três horas a chama extinguiu-se. Acendi então a lamparina e meti-me debaixo das cobertas, porque a presença dos pequenos roedores causava-me aborrecimento e medo. De repente, ouvi a gata roncar ruidosamente. Escutei durante cerca de um minuto, depois do que resolvi levantar a cabeça e olhar para então observar um estranho facto: vi, diante da parede aderente a um lado da cama, ao nível de minha cabeça, uma espécie de disco opaco, do diâmetro de uma gata branca e preta, absolutamente igual à que acabara de morrer. Olhou-me, fazendo várias vezes um movimento de cabeça da maneira característica da gata morta, em seguida o seu corpo tornou-se transparente durante alguns segundos para logo tomar uma forma opaca mais consistente do que a anterior e então vi a gata olhar para o alto como se lá houvesse alguém. A aparição era tão real que eu dirigi a palavra à gata como se ela estivesse viva, mas, repentinamente, desapareceu. No seu todo, o fenómeno foi de curta duração, porém, durante a noite inteira, não fui mais incomodada pelos ratos, embora não conseguisse dormir, senão a longos intervalos. Não havia nenhuma possibilidade de outro gato entrar no meu quarto, porque a porta e as janelas estavam bem fechadas, além do que, ao romper da manhã, não encontrei nenhum gato vivo nele. Quando o fenómeno aconteceu, eu não havia ainda adormecido e estava perfeitamente consciente de me sentir acordada.”

“No mês de Janeiro de 1887, a senhora Bosc, viúva do eminente engenheiro, estava sentada perto da chaminé do nosso apartamento no número sete da rua de Lille, em Paris, quando o conde Levofl, presidente da Alta Corte de Moscovo, chegando da Rússia, fez-nos uma primeira visita. Nós já o havíamos apresentado à senhora Bosc e, enquanto eu escrevia, eles conversavam um com o outro. A um dado momento, a senhora Bosc disse: Apercebo-me que ao vosso lado está um cão que parece ser muito ligado a vós. É um grande terra nova branco, com as patas e as orelhas pretas e uma estrela preta na testa. Tem à volta do pescoço uma coleira de prata, fechada por uma pequena cadeia, com a inscrição Serge Levolf e o nome do cão (que a vidente citou, mas que o senhor Leymarie esqueceu). Possui uma linda cauda comprida e acaricia-vos, olhando para vós. A estas palavras os olhos do senhor Levofl encheram-se de lágrimas e ele contou: Na minha infância eu era ágil e destro e meus pais confiaram-me a guarda de meu cão, que foi exactamente descrito. Ele salvou a minha vida por mais de uma vez, tirando-me das águas do rio no qual estava a ponto de me afogar. Tinha doze anos quando perdi meu o fiel amigo e chorei como se perdesse um irmão. Fico feliz ao saber que ele está perto de mim, com a certeza de que esses companheiros de nossas vidas têm uma alma inteligente que sobrevive à morte do corpo e um espírito graças ao qual podem reconstituir os seus corpos, com a coleira e a sua inscrição ainda. Posso, além disso, reconhecer na senhora um médium de grande poder, que despertou em mim recordações de há quarenta anos. Obrigado, madame, e que Deus a abençoe. A senhora Bosc viu ainda o cão fazer grandes manifestações de alegria para depois desaparecer pouco a pouco. “


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http://www.esnips.com/doc/66608cba-5b48-4aa1-9883-1522d4db59b3/OS-ANIMAIS-T%EF%BF%BDM-ALMA---ERNESTO-BOZZANO