confesso que me identifico um pouco com todas estas filosofias esotéricas originárias do oriente, no sentido de conseguir "picar" algo de verdadeiro em cada uma - mas não ao ponto de deixar de olhar para o todo com um sentido crítico; o budismo centra-se à volta da figura de Sidarta Gautama e dos seus ensinamentos, e como acontece com a figura de Jesus ou Maomé, não se sabe até que ponto as pessoas reais viveram sequer, se foram avatares incarnados, se foram vulgares rebeldes cuja mensagem foi posteriormente dourada e aumentada pelos historiadores - não sabemos, não estivemos lá, não experimentamos.
li, e não sei até que ponto a afirmação será verdadeira, que Buddha terá dito algo do género: "Eu não quero ir para o céu porque de qualquer das formas eu estou para além de todo sofrimento; onde quer que você me coloque, é assim que eu me sentirei. Então deixe-me ir para o inferno. Você diz que as pessoas sofrem lá, então eu vou fazer alguma coisa nesse lugar; em todo o caso, eu me desenvolvi de uma maneira que não posso sofrer. Então deixe-me ir para o inferno."
assim que li tive um click instantâneo - terá sido um sentimento semelhante que nos levou a querer incarnar neste planeta-prisão? em todo o caso eu não me revejo neste tipo de afirmação, e assim como não me revejo nestas novas tendências que defendem uma purificação e evolução através de uma fuga às pessoas e situações tóxicas (estás na merda, a culpa é toda tua, tu é que atraíste as situações, tu é que pediste para viver tudo isto antes de nascer, então fode-te praí sozinho) - dizer que se está para além de todo o sofrimento para mim é apenas uma posição de arrogância espiritual, e denota nada mais do que uma simples falta de empatia.
entendo que até certo ponto temos de nos afastar dos conflitos para nos podermos conhecer a nós mesmos, evoluir e crescer como pessoas, ninguém mais do que eu poderá defender essa posição - o que não quer dizer que nos tenhamos todos de refugiar no cimo de uma montanha, por muito apelativa que seja essa ideia!
de volta ao tema, o budismo está na moda, com toda a gente a querer decorar a casa com buddhas, mandalas e outros motivos zen, que sem qualquer tipo de dúvida são apelativos - assim como a banalização do yoga nas academias e até a banalização do sexo tântrico, de uma maneira tão escandalosa que a mim me parece mais uma prostituição da mulher no sentido de a escravizar ao ponto de a utilizar como um meio para obter poder e energia - lembram-se de Crowley e das suas discípulas? dizer que o sexo está na base de tudo é tão tipicamente freudiano, a mulher não tem de ser um meio para atingir um fim, se houver união entre o divino feminino e o divino masculino óptimo, mas não existindo isso não somos menos pessoas em nada, poderá ser um ponto de partida para outros voos e nunca uma obrigação... e isto das modas acaba por ser complicado porque sempre ficamos com a pulga atrás (o meu apelido na secundária era minoria, e não era por ser pequenina, mas sim por estar constantemente contra a maré) - será somente mais uma caixa para acomodar aqueles que estão fartos e desiludidos com o cristianismo? porque apesar de diferentes, ambas as ideologias se focam na noção do sofrimento, e no budismo há a ideia da flor de lotus que prospera nas águas lodosas e estagnadas de um lago, assim como a roda de samsara e toda essa treta, vamos reincarnar e resolver todos os problemas que causamos nas vidas passadas - de quantas vidas precisamos até atingir a iluminação? e não nos esqueçamos de evitar a carne para não absorver a energia dos animais na altura da matança - surprise, surprise, as plantas também têm sentimentos!
religiões que incorporam o sofrimento de uma forma ou outra não me convencem, e quem ou o quê beneficia com o sofrimento humano? haverá forma de conseguir que os nossos parasitas deixem de nos parasitar sem que definhem e morram? quando alguém descobrir uma ideologia que defenda uma maneira eficaz e justa de quebrar com todo o ciclo de sofrimento e parasitação, me avisa vai :), ou como Khaleesi diria, "I'm not going to stop the wheel. I'm going to break the wheel."