15 de dez. de 2010

Apontamentos Iconográficos Sobre a Serpente


Devido ao movimento de precessão do eixo de rotação da Terra, Thuban (palavra árabe para basilisco), na constelação de Draco foi a estrela visível a olho nu mais próxima do pólo norte celeste, desde 3942 AC até cerca de 1900 AC, altura em que a civilização egípcia atingiu o seu exponente máximo.



             
Ophiuchus, o Serpentário, é uma constelação do zodíaco. Representa-se como um homem segurando a Serpente, Draco, que fica dividida em duas partes no céu. Ophiuchus é identificado com Asclepius, um físico antigo do qual se diz que tinha o dom de curar de tal forma que podia restituir a vida aos falecidos. No entanto, considerando isto como um crime contra a ordem natural das coisas, Zeus matou-o com um raio. A cobra que Ophiuchus, o Serpentário, segura nas suas mãos é o símbolo da medicina em todo o mundo, o caduceu. A vara de Asclepius contém apenas uma cobra enroscada.


Citação do egípcio Horapollo no séc.V acerca dos hieróglifos: “Se quiseres representar o universo, desenha uma serpente coberta de escamas brilhantes, a qual devora a própria cauda. As escamas representam as estrelas do firmamento. Todos os anos, despoja-se da sua pele, o tempo passado. E a consumição do próprio corpo indica que todas as coisas do mundo que podem ser criadas pela providência divina sucumbem igualmente à destruição.”


Imagem retirada de um manuscrito de Rajasthan, datado do séc.XIX, representando a eterna recorrência da séptupla divisão do Universo como fluxo do espaço e do tempo.



Segundo uma antiga tradição, a serpente devora os corpos celestes para de seguida os vomitar. Esta é uma imagem retirada do Ars Magna Lucis de Amesterdão de 1671, e representa uma tabela de cálculo dos eclipses do Sol e da Lua.





A correlação entre as nove esferas e as nove musas segue uma visão harmónica do neopitagórico Martianus Capella, do séc. V d.C. O acordo é dirigido por Apolo como motor primeiro. As esferas são atravessadas ritmicamente pela serpente egípcia da força vital. As suas três cabeças representam a trindade divina nas três dimensões do espaço e nos três aspectos do tempo. Ars Magna Lucis, Roma, 1665. 





O egípcio Apep, Apófis para os gregos, é uma gigantesca serpente aquática que tenta engolir a barca de Ra, o Sol, durante sua passagem pelo mundo subterrâneo. Vários deuses a enfrentam, mas o único que consegue derrotá-la é Set, que após a vitória se torna arrogante e acaba sendo expulso da barca.




No Egipto, Rá e Áton (aquele que termina ou aperfeiçoa) eram o mesmo deus. Áton o "oposto a Rá," foi associado com os animais da terra, incluindo a serpente. Nehebkau (aquele que se aproveita das almas) era o deus da serpente que guardava a entrada do mundo subterrâneo.
Existe uma lenda egípcia que nos conta que o deus criador no começo do mundo foi privado de seu olho. manda então seus mensageiros divinos Shu e Tefnut à sua procura. Tão longa foi a sua ausência que Rá substitui o infiel. "O Olho" quando finalmente retorna, derrete-se em lágrimas ao ver que seu lugar fora tomado. Os homens (literalmente rémet) nasceram assim das suas lágrimas (rémyt), o jogo de palavras aqui criando sua origem mítica. E para apaziguar "o olho", Rá transforma-o em serpente-uraeus, serpente alada e coloca-o na sua fronte como símbolo do seu poder para combater os rebeldes.




Na Índia, a espinha dorsal é chamada de o bastião de Brahma. A quarta ilustração mostra o arquétipo do Caduceu, cujas duas serpentes simbolizam  o Kundalini ou o fogo da serpente, enquanto que as asas representam o poder do voo consciente através  dos mundos superiores gerado pelo despontar deste fogo. Leadbeater, The Chacras, 1927.






 “Estas são as duas serpentes enroscadas à volta do bastão de Mercúrio, com o qual ele manifesta o seu imenso poder e reveste a forma que quer. Quando as duas são postas no vaso do Túmulo dos Mortos, mordem-se uma à outra cruelmente. Através da putrefacção, perdem a sua primeira forma natural para revestirem uma forma nova e mais nobre. A razão por que quero que desenhes estas duas sementes (feminina e masculina) sob a forma de um dragão é porque é grande a sua pestilência, assim como a sua peçonha.” Nicholas Flamel, Chymische Werke, 1681





Na mitologia mesopotâmica Ningishzida era um deus do submundo e estava associado à medicina, à natureza e à fertilidade. Seu nome significa “O Senhor da Boa Árvore”. Nos mitos sumérios ele aparece como guardião do palácio de Anu. Era representado por uma serpente com cabeça humana, e os seus símbolos eram duas serpentes enroscadas em torno de um bastão.


Tiamat é uma deusa das mitologias babilônica e sumérica. Na maioria das vezes Tiamat é descrita como uma serpente marinha ou um dragão. No mito fragmentado "Astarte e o Tributo do Mar" há uma menção de "Ta-yam-t" o que parece ser uma referência de uma serpente (Ta - Tan) marítima (Yam). Apesar do Enuma Elish contar que Tiamat deu à luz dragões e serpentes, estão também incluídos entre eles uma grande lista de monstros tais como homens, escorpiões e sereias. Inicialmente Tiamat era adorada como a mãe dos elementos, tendo sido responsável pela criação de tudo que existe. Os deuses eram seus filhos, netos e bisnetos.




Nirah, uma antiga deíade Suméria; é o mensageiro divino de Sataran, o deus local da cidade suméria Der, e representa a justiça e a cura.










A grande Deusa mãe minoica, Potnia Theron, pode manusear uma serpente em cada uma das suas mãos, talvez evocando o seu papel como a fonte da sabedoria, melhor que o papel como a senhora dos animais. Não por acaso mais tarde o infante Héracles, um herói limítrofe entre o velho e o mundo novo de Olympia, também manuseara duas serpentes que o ameaçaram no berço.
  




Píton na mitologia grega é uma serpente gigantesca que nasceu do lodo na Terra depois do grande dilúvio. Foi mandada por Hera para perseguir Leto. A serpente foi morta por uma flecha de Apolo e seu corpo foi dividido. Píton era o antigo nome de Delfos. Apolo matou a terrível serpente porque Píton tinha tentado violar Leto quando se encontrava grávida de Apolo e Ártemis. Esta era a fonte que emitia os vapores que permitiam ao oráculo de Delfos realizar as profecias. Apolo matou Píton, mas teve que ser punido por isso, uma vez que Píton era filha de Gaia. O altar dedicado a Apolo provavelmente foi dedicado originalmente a Gaia e depois a Posseidon
Existem também tradições gregas que nos falam de reincarnações em forma de serpente. Havia uma crença generalizada na serpente sagrada da Acrópole, que defendia a cidade. Representava a alma de Erecteo, homem serpente, que se acreditava ser um antigo Rei de Atenas, ou até o próprio Posseídon. Por toda a Grécia havia o hábito de derramar leite nas tumbas dos falecidos, cujas almas se acreditava reincarnarem em serpente. Quando Plotino faleceu, conta-se que uma serpente saiu da boca do filósofo enquanto  ele soltava o  seu último suspiro.


 
A Medusa era um monstro ctônico do sexo feminino, uma das três Górgonas e filha de Fórcis e de Ceto. Quem quer que olhasse directamente para ela era transformado em pedra. Ao contrário de suas irmãs Górgonas, Medusa era mortal e foi decapitada pelo herói Perseu, que utilizou posteriormente sua cabeça como arma, até a oferecer a Atena, que a colocou no seu escudo.




 


Existe uma lenda que nos conta que Zeus apareceu a  Olímpia de Épiro sob a forma de uma serpente branca, a seduziu e gerou Alexandre o Grande, da Macedónia.







Na mitologia chinesa há uma lenda que diz que há muito tempo atrás houve um grande dilúvio e os únicos sobreviventes foram Nu Kua e Fu Xi. Quando as águas baixaram, eles transformaram-se num casal de serpentes com cabeça humana. Seus filhos foram as plantas e animais do mundo. Uma outra história conta que Nu Wa formou as pessoas com bolas de lama.








              
            

Nas tradições Indu e Budista, existe uma divindade meia humana meio serpente denominada Naga. Normalmente tem a forma de uma enorme cobra-real, com uma ou várias cabeças. As Nagas podem assumir tanto uma forma humana como uma forma de serpente. Diz-se que elas habitam lugares subterrâneos, em palácios sumptuosos e são adornadas com pedras preciosas. O deus Brahma relegou-as para os locais mais longínquos e indicou-lhes que mordessem apenas as pessoas mais malvadas e todos aqueles destinadas a uma morte prematura. As Nagas também são associadas à água – aos mares, rios, lagos, e poços sagrados. São veneradas nesses locais como divindades que guardam um tesouro. No Budismo acredita-se que a divindade serpente protegeu Buddha da chuva durante os sete dias da sua meditação.



Associada a Vishnu e a Shiva, Anantha simboliza o desenvolvimento e a reabsorção cíclica, e, como guardiã do nadir (é o ponto inferior da esfera celeste) é a portadora do mundo e a que assegura a sua estabilidade. Para se construir uma casa indiana, que como toda a casa se deve encontrar no centro do mundo, deve-se enfiar uma estaca na cabeça do naga subterrâneo. Esse ponto particular deve ser encontrado por um geomante.















Nos mitos nórdicos, Jormungand é o segundo filho de Loki com a gigante Angrboda. Jormungand tem o aspecto de uma serpente gigantesca. Quando nasceu, conta a Edda, que Odin a lançou no mar profundo que cobre a Midgard - Odin raptou os três filhos de Loki, sendo Jormungand lançada no grande oceano que circula Midgard, onde viveu desde então. A serpente cresceu tanto que seria capaz de cobrir a Terra e morder a própria cauda, e como resultado disso, ela também é chamada de Serpente de Midgard ou Serpente do Mundo. O arqui-inimigo de Jormungand é o deus Thor. Durante o Ragnarök, diz-se que ela se libertará e cobrirá a terra e os céus com seu veneno. Nos antigos barcos nórdicos, uma carranca de Jormungand era esculpida na proa para os proteger dos monstros marinhos.

  
A serpente era um símbolo vital para os Celtas, representando a criação, o renascimento, a fertilidade e a cicatrização. As serpentes fazem também a ligação entre os rios e os mares, assim como entre os Céus e a Terra. Ela tanto protegia a entrada para o Outro Mundo como era a companheira dos deuses. Ouroboros, a serpente, representa a energia em espiral no interior da Terra e, com a cauda na boca, o infinito. Devido à mudança anual da sua pele, a serpente recordava-nos a natureza cíclica da vida.



Segundo Maier, os antigos interpretavam o anel de Uroboro como a mudança e o retorno do ano, ou como o inimigo da obra, em que a cauda peçonhenta e húmida do dragão é consumida. Quando o dragão se tiver despojado por completo da sua pele, como a serpente, da sua peçonha obter-se-á a suprema medicina. Maier, Atalanta Fugiens, Oppenheim, 1618


Os filósofos antigos comparavam o mercúrio a uma serpente, porque arrasta atrás de si uma cauda e o seu peso impele-o para cá e para lá.
A primeira ilustração do códex de Nicholas Flamel mostrava uma vara e duas serpentes que se devoravam uma à outra. Elas incarnam a circulação repetida da destilação e da condensação. A serpente alada significa o espírito cósmico universal que é sorvido do orvalho e com o qual se prepara o sal. Ela é o espírito cósmico que insufla vida em tudo, que também trás a morte a tudo e apaga todas as imagens da natureza. Porém, a serpente inferior significa a matéria, a terra virgem sob as raízes dos vegetais. Abraham Eleazar, Uraltes Chymisches Werk, Leipzig, 1760.


De acordo com suas lendas, os índios Hopi da América do Norte antigamente viviam no interior da Terra e eram alimentados e vestidos pelo povo da  formiga e pelo povo da serpente. Os Hopi referem-se aos seus ancestrais como os seus irmãos cobras e o mais sagrado dos seus rituais subterrâneos é a dança da cobra.







A Serpente é uma criatura muito importante na mitologia pré-colombiana. Ela foi um símbolo social e religioso muito significativo, e era venerada pelos maias. A mitologia maia descreve a serpente como  sendo um veículo pelo qual corpos celestiais, tal como o sol e as estrelas, atravessam os céus. O descamar da sua pele fez dela um símbolo de renascimento e renovação. Ela era tão venerada que uma das divindades mesoamericanas, Quetzalcoatl, foi representada como uma serpente emplumada. O seu nome significa “serpente preciosa”. Quetzalcoatl representa as energias telúricas que ascendem, daí a sua representação como uma serpente emplumada. Neste sentido, representa a vida, a abundância da vegetação, o alimento físico e espiritual para o povo que a cultua ou o indivíduo que tenta uma ascese espiritual. A Serpente da Visão é considerada a mais importante de todas as serpentes maias. Durante os rituais sangrentos, os participantes teriam visões nas quais comunicavam com ancestrais ou divindades. Estas visões tomavam a forma de uma serpente gigante "a qual servia como uma passagem para o reino do espírito". O ancestral ou divindade contactado era figurado como emergindo da boca da serpente. O culto da serpente consolidou-se como o método pelo qual ancestrais ou deuses se manifestavam aos maias.



Conta a lenda que uma índia de uma tribo da Amazónia, grávida da Cobra-grande (Sucuri) deu à luz duas crianças gémeas que na realidade eram cobras, Norato e Maria. Para se ver livre deles, a mãe atirou as duas crianças ao rio. Já no rio elas, como Cobras, sobreviveram. Norato era bom mas sua irmã era muito má, acabando Norato por matá-la. Em noites de luar, Norato adquiria a forma humana transformando-se num rapaz, deixando as águas para levar uma vida normal em terra. Certo dia um soldado do Pará derramou leite na na boca da enorme cobra e fez um ferimento na sua cabeça, libertando Norato da sua condição. Ele passou a viver na terra com sua família. 


Na mitologia das ilhas Fiji, Ratumaibulu é um deus de grande importância, pois é o patrono da agricultura. Durante o mês chamado de Vula-i-Ratumaibulu, ele vem do Bulu, o mundo dos espíritos, para nos dar a fruta-pão e muitos outros frutos que crescem em árvores. Diz-se que tem a forma de uma serpente humana.



No Vodu, Damballah é o mais importante dos loa (espíritos que servem de intermediários entre os humanos e Bondye, o regente do mundo sobrenatural). Damballah é o Deus do Céu e o criador de toda a vida. Em Nova Orleans e no Haiti, ele é descrito como uma serpente e está frequentemente associado a fontes e rios, pois a sua natureza é o movimento cíclico. Ele é considerado o pai de todas as loas, pois todos os Espíritos têm o aspecto do Damballah. Damballah controla a mente, a inteligência e o equilíbrio cósmico. Os símbolos do altar usados para o representar incluem pano branco, corujas, ossos, marfim, algodão e camaleões. Algumas canções do ritual ao Damballah indicam que ele "transporta os antepassados" em suas costas para a Guiné (país espiritual do Loa). Sua esposa é a serpente arco-íris Ayida Weddo. Seu dia da semana é a quinta-feira. As oferendas dadas a Damballah podem ser um ovo, um monte de farinha ou de sal, pois segundo a crença ele adora alimentos de cor branca. Ele é o protector patrono dos deficientes, deformados, aleijados, albinos, jovens e crianças. Quando ele se apresenta na sua posse, ele não fala, mas faz um barulho sibilante como uma serpente.


           
A Serpente do arco-íris é um importante símbolo mitológico para os povos Aborígenes da Austrália, particularmente da Austrália do norte. A serpente do arco-íris é vista como o guardião das fontes e o protector da vida em geral e principalmente do seu recurso mais precioso, a água. As suas histórias dizem que os grandes espíritos durante a altura da criação, moldaram a terra estéril e plana. Tudo estava sossegado, nada se movia, nada crescia. Os animais dormiam sob a terra. A serpente do arco-íris desceu abaixo da terra e criou cumes, montanhas e vales enormes enquanto empurrava a terra para cima. A Serpente é considerada como um protector benevolente de seus povos (grupos do país ao redor) e como um castigador malevolente dos dissidentes da lei. O simbolismo da serpente do arco-íris está relacionado com a terra, a água, a vida, os relacionamentos sociais e a fertilidade.                                                                                            
                              











Relato de Credo Mutwa, líder Zulu da África do Sul e curandeiro tradicional, sobre a história dos seus antepassados: “Inicialmente a Terra estava rodeada por uma densa manta de neblina. As pessoas não conseguiam ver o sol ou a lua no céu mas apenas um clarão de luz. A chuva jorrava constantemente. Não haviam trovões. Não haviam tempestades. O mundo estava coberto por grandes espessas florestas, selvas e as pessoas viviam em paz na Terra naquela época. As pessoas eram felizes sendo que naquela época nós não tínhamos o poder de nos expressarmos. Nós fazíamos sons como macacos alegres mas nós não falávamos como nós falamos actualmente. As pessoas comunicavam-se telepaticamente. (…) Um caçador deveria ir ao bosque e chamar os animais para virem e assim um dos animais mais velhos e cansados seria seleccionado por si mesmo devendo se oferecer para o caçador. Não existia violência contra os animais. Não havia violência contra a natureza pelos seres humanos naquela época. (…) Quando o Chitauli chegou à Terra eles chegaram em embarcações que flutuavam no ar, embarcações que possuíam a forma de tigelas e que faziam um ensurdecedor barulho e terríveis labaredas no céu. E os Chitaulis disseram aos seres humanos que eles eram os grandes deuses dos céus. Esses deuses pareciam-se com os seres humanos mas eram muito altos com uma comprida cauda e com tenebrosos olhos flamejantes sendo que alguns tinham dois brilhantes olhos amarelados - e alguns tinham três olhos vermelhos sendo que o terceiro olho ficava no centro das sua testa. E então essas criaturas tomaram os grandes poderes que aqueles seres humanos possuíam: o poder de conversar e movimentar objectos pela mente e o poder de observar o seu futuro e passado e também o poder para viajar espiritualmente para diferentes mundos. Todos esses poderes o Chitauli tirou dos seres humanos e deram-lhes um novo poder, o poder da fala. Mas os seres humanos descobriram que o poder da fala dividiu os seres humanos em vez de uni-los, porque o Chitauli habilmente criou diferentes linguagens que dividiram as pessoas. (…) Os seres humanos começaram a sentirem-se inseguros e começaram a construírem aldeias com fortes cercas de madeira ao redor. Os seres humanos começaram a formar países. Em outras palavras eles começaram a criar tribos delimitadas por terras que eles defendiam contra qualquer inimigo. Os seres humanos tornaram-se ambiciosos e gananciosos procurando enriquecerem-se com gado e crustáceos. E a outra coisa que o Chitauli forçou os seres humanos a fazer foi trabalharem em minas. O Chitauli recrutou mulheres humanas para descobrirem minerais e certos tipos de metais. As mulheres descobriram cobre, ouro e prata. (…) Outra coisa que o Chitauli nos disse é que nós estamos aqui na Terra transformando-a para adaptá-la para "O Grande Deus" vir um dia habitá-la. É dito que eles estão trabalhando para mudar este planeta e salvaguardá-lo para a grande serpente Chitauli vir e habitar este mundo recompensando-os com poder e riqueza.”


A tribo Dogon, do Mali, acredita que foram criados por deuses anfíbios há cerca de cinco mil anos e que eram metade humanos e metade répteis, denominados Nommos, ou os senhores da água. Uma das suas celebrações principais é em honra do seu ancestral Lébé Serou, o primeiro ser humano a ser criado, e que, segundo os seus mitos, foi transformado numa serpente.

                       


Os Ashanti são uma tribo oriunda da zona central do Gana. A sua mitologia gira em torno da crença de que o primeiro homem surgiu do interior da Terra por um buraco. Segundo a lenda, numa certa Segunda-feira uma minhoca gigante abriu um enorme buraco e dele surgiram sete homens, algumas mulheres, um cão e um leopardo. Todos estavam aterrorizados ao ver o mundo à superfície, com excepção do seu líder, Adu Ogynae, que os tentou acalmar, mas foi atingido por uma árvore que caía e morreu. Estes primeiros homens não tinham conhecimento de como conceber filhos, então uma piton espalhou água nos seus ventres e disse-lhes para dormirem juntos. Como resultado as mulheres engravidaram, e a piton foi até hoje considerada como um animal sagrado.                     
                                                                                                                                                          
           


Debre Dammo é um mosteiro da Etiópia, e foi fundado no cume de uma montanha, por um santo, no século VI. Abba Aregawi foi um dos nove santos que vieram para a Etiópia para espalhar o Cristianismo no país. Ele estabeleceu-se no distrito de Eggala, na montanha (amba) de Dammo. Diz a história que se encontrava lá uma enorme serpente, que havia sido instruída por Deus para agir como uma corda de modo a elevar Aregawi ao topo da montanha, o que fez, com o apoio do arcanjo Gabriel. Mais tarde, depois de se ter espalhado a fama de Abba Aregawi, o rei Gabra Masqal mandou colocar uma rampa de forma a facilitar a construção de uma igreja no cimo da montanha, rampa que depois foi retirada para manter a separação do local do resto do mundo.
Investigações recentes e antigos textos etíopes baseados em tradições orais remetem-nos também para a antiga prática de um culto à serpente, que se denominava culto à serpente arwe, e que era praticado paralelamente com a lei de Moisés. A serpente era considerado um dragão divino ou o primeiro rei Arwe-Negus, pai da rainha de Sabá.







 




A serpente falante (nachash) no Jardim do Éden introduz conhecimento proibido, mas não é identificada com Satanás no Livro do Génesis. A informação dada pela serpente poderia ser proibida, e foram as suas palavras as primeiras mentiras relatadas na bíblia. "...certamente não morrereis. É que Deus sabe que no dia em que comerdes do fruto, os vossos olhos se abrirão e sereis como Deuses, conhecedores do bem e do mal"."Agora a serpente era mais subtil do que qualquer animal do campo que o senhor Deus fez, -Gênesis 3:1". A serpente é símbolo de sabedoria em diversas tradições, inclusive no Evangelho (Mt.10,16), a responsável pelo despertar de uma nova consciência. A razão pela qual a serpente procurou primeiro a mulher foi devido à sua intuição. Apenas a intuição consegue romper com as normas estabelecidas e introduzir uma nova abordagem da realidade. A serpente, sábia como era, procurou Eva (a intuição) e não Adão (a razão) para alcançar seu objectivo. Depois de Adão e Eva terem comido do fruto proibido, Deus mal disfarça sua admiração: “Eis que o homem se tornou como um de nós.” (Gn.3,22). A serpente é a manifesta personificação da desobediência e da provocação a Deus. Por este motivo foi sempre associada a uma representação das forças do mal.


Alguns teólogos modernos acreditam que a serpente foi a forma assumida pelo demónio para tentar Eva. Existe também a crença de que Lilith, (a primeira mulher de Adão, que se revelou contra ele e contra a sua condição de mulher como inferior, abandonando-o em seguida) teria se transformado em serpente para tentar Eva e se vingar de Adão. Uma terceira interpretação é a que faz parte de uma tradição judaica: "A serpente bíblica era um animal astucioso, que caminhava erecto sobre as duas pernas, falava e comia os mesmos alimentos que o homem. Quando viu como os anjos prestigiavam Adão, teve ciúmes dele, e a visão do primeiro casal a ter sexo despertou na serpente o desejo por Eva. Por instigação de Satanás ou Samael, ou, segundo algumas versões, possuída por ele, a serpente persuadiu Eva a comer o fruto proibido e seduziu-a.”
                                                                         


No Livro dos Números, passagem 21, podemos ler:“E o Senhor enviou serpentes agressivas sobre as pessoas, e elas morderam as pessoas; e muitos israelitas morreram. Então as pessoas vieram até Moisés, e disseram : Nós somos pecadores, por termos ido contra as leis do Senhor, e contra Ele; reze para o Senhor, peça-Lhe para levar as serpentes embora. E Moisés rezou para o povo. E o Senhor disse a Moisés: Faça você uma serpente zangada, e coloque-a sobre um bastão; e deixe-a passar, pois todos que foram mordidos, basta olhar para o bastão, e viverão. E Moisés fez uma serpente de metal, e colocou-a sobre um bastão, e deixou-a passar, e se a serpente tivesse mordido qualquer homem, quando ele olhasse para a serpente de metal, ele viveria." Quando o jovem rei Ezequias veio ao trono de Judá no oitavo século: "Ele removeu os mais altos palácios, e quebrou as imagens, e matou os seres rastejantes, e quebrou as serpentes de metal que Moisés havia feito, que ele chamou de Nebushtan."( Reis 18.4) O complemento "-an" no fim significa que o ídolo possuía duas serpentes sobre um bastão, as familiares serpentes entrelaçadas do caduceu de Hermes.


A segunda ilustração do códex de Nicolas Flamel mostrava uma cruz, onde estava presa e crucificada uma serpente. A serpente que Moisés pregara na cruz para que fosse vista perante todos e estes pudessem recuperar da praga que os afligira, é um símbolo do poder curativo de Mercúrio, o Cristo crucificado. Esta serpente é o rei poderoso da natureza, que cura o mundo inteiro.                             Abraham Eleazar, Uraltes Chymisches 1760

"A serpente é o símbolo e protótipo do Salvador Universal, que redime os mundos dando à criação o conhecimento de si mesma e a realização do bem e do mal." Manly Palmer Hall, The Philosophical Research Society Press





                                                                                             

Pintores e escultores na tradição Cristã, através da história, trabalharam subtilmente o tema da Virgem e da serpente; ou é a Virgem que esmaga a serpente ou enterra o dardo na cabeça do dragão, ou é o Menino, mas, nesse caso, a mãe tem seu pé sobre o pé do Menino. De qualquer forma, a serpente aos pés da Virgem refere-se ao demónio presente no paraíso. Jesus é o novo Adão. Maria é a nova Eva. A mulher esmaga a cabeça da serpente, de maneira que a morte deixaria de ser uma forma de escravizar os homens.


O emblema da Sociedade Teosófica, na sua combinação de Uroboro ocidental, Suástica oriental, da Estrela de David judaica e do Ankh do antigo Egipto dá-nos uma ideia geral do seu programa. A sociedade foi fundada em Nova Iorque em 1875 por uma emigrante russa, Helena P. Blavatsky (1831-1891), descrita por Yeats como uma espécie de "camponesa ancestral". Em 1879 a sociedade transferiu a sua sede para Adyar, na Índia. O misto de espiritualidade oriental e de ocultismo ocidental contribuíram de forma decisiva para o desenvolvimento da pintura abstracta. Entre os devotos da sociedade encontram-se Wassily Kadinsky e Piet Mondrian. O seu programa de “ciência, religião e filosofia” fez de Madame Blavatsky um dos arautos do movimento da “New Age” dos finais do século passado. Segundo a sua teoria, todo o cosmos consiste num processo de evolução e involução com sete estágios. O objectivo da humanidade é a progressão ascendente de um corpo material e sexual para um corpo etéreo e leve.
                                                                                                    

Ofiússa ou Ophiussa é o nome dado pelos antigos gregos ao território português. Significa Terra das Serpentes. Os ofis viveriam, principalmente, nas montanhas do Norte de Portugal, incluindo a Galiza. Outros dizem que estes viviam na foz dos rios Douro e Tejo. Este povo venerava as serpentes, daí Terra das Serpentes. Existem alguns estudos arqueológicos que mencionam este povo e cultura. Alguns crêem que o dragão, muitas vezes representado como um grifo e originário de uma primitiva serpente alada - a "Serpe Real", timbre dos Reis de Portugal e depois também dos Imperadores do Brasil, está relacionado com este povo, ou com os celtas que mais tarde colonizaram a zona, que por sua vez poderiam ter sido influenciados pelo culto ofi. Na face cristã deste símbolo no Reino de Portugal, expressa na tradição dos monges cistercienses de Alcobaça sobre o Milagre de Ourique e a consequente origem das Quinas da coroa portuguesa nas Cinco Chagas de Jesus Cristo, descrita no mesmo Juramento de Ourique, este símbolo sagrado da serpente ligado à sabedoria divina e já atribuído a Moisés, prende-se agora essencialmente com a divindade de Jesus Cristo.

A Moura-serpente é uma moura encantada que pode tomar a forma de uma serpente. Algumas destas mouras serpentes, ou mouras-cobra, podem ter asas e podem aparecer como meio mulher meio animal, como na lenda da serpente de Noudar ou do Monte d'Assaia. Constava que nos subterrâneos do Castelo de Noudar vivia uma triste moura que se passeava à sombra dos freixos dos rios (Ardila e Múrtega), mas que ao menor sinal suspeito transformava-se em serpente e desaparecia por qualquer buraco. A lenda explica que o encantamento vem dum desgosto: um irmão da moura apunhalara uma grande amiga dela que o repudiara por querer baptizar-se e desejar casar com um cristão. O mouro, com os seus guerreiros, matara todos os moradores do Castelo de Fornilhos, onde vivia a jovem vítima que, no último momento da sua vida conseguira ser baptizada. Assombrado e arrependido, o criminoso correra a enforcar-se e a irmã tomou encantamento por artes mágicas, refugiando-se em misteriosos subterrâneos do Castelo de Noudar. O Monte d'Assaia localiza-se no Concelho de Barcelos. Uma lenda do local fala duma moura encantada, meio mulher meio cobra, cuja captura facilitaria o acesso a grandes tesouros que se esconderiam na área do monte. Para dominar a moura e alcançar essas riquezas, era preciso subir lá, de noite, fazer a leitura seguida e sem falhas do Livro de São Cipriano e vencer as provas terríveis que iriam surgir. Contam as gentes de Peroguarda que uma bela menina de cabelos louros, segundo uns, ou de cabelos negros, afirmam outros, de origem árabe, encontrava-se junto da fonte Fausta todos os dias com o seu namorado. Contudo, um dia ele teve de se ausentar para ir guerrear noutras terras. Este prometeu-lhe, porém, que voltaria a encontrá-la junto a essa velha fonte. A moura esperou, esperou mas o seu apaixonado nunca mais voltou pois teria morrido na peleja. Dizem as gentes que essa bela moura aparecia ai, junto a essa fonte, todas as noites e que na noite de São João havia até quem a ouvisse a cantar e a chorar as suas mágoas. Conta-se ainda que esta mulher se transformava numa majestosa cobra durante o dia e é por isso que sempre que os aldeões encontram uma grande cobra nunca a matam. Os aldeões afirmam ainda que esta moura apareceu um dia a uma velhinha que era muito pobre e que lhe deu uma mão cheia de figos que logo se transformaram em valiosas moedas de ouro. O ouro das Mouras pode aparecer em variadas formas: figos, pedras, carvões, meadas, animais e instrumentos de trabalho. Existem diferentes meios de se obter o ouro: pode ser oferecido pela moura como recompensa, roubado, ou achado. Frequentemente está dentro de um vaso, escondido dentro de panelas enterradas ou outros recipientes. É no dia de São João que se acredita que as mouras aparecem com os seus tesouros, quando se pode quebrar o seu encantamento. Em algumas lendas é neste dia que a moura encantada espalha os figos num penedo, ao luar. Noutras variantes, a moura espalha os figos ou a meada de ouro ao sol em cima do penedo. Este dia marca a data do solstício de Verão, sendo a sua referência talvez a reminiscência dum culto solar. A fonte é um dos locais que as mouras aparecem frequentemente, muitas vezes como serpentes. Muitas vezes eram atribuídas virtudes mágicas às suas águas, como na Fonte da Moura Encantada. O encantamento da moura pode ser causado pelo pai ou algum outro mouro (ou génio) que a deixou a guardar os tesouros, geralmente uma figura masculina. São geralmente os mouros que têm o poder de encantar as mouras. Nas lendas, a moura pode aparecer sozinha, acompanhada de outras mouras encantadas, ou de um mouro, podendo este ser um pai, a pessoa amada, ou um irmão. Para se realizar o desencantamento da moura, pode ser solicitado segredo, um beijo, um bolo ou pão sem sal, leite, o pronunciamento de algumas palavras, ou a realização de alguma tarefa. Falhar é não desencantar a Moura e "dobrar o encanto", não obter o tesouro desejado ou perder a moura amada. Nas lendas em que é solicitado o pão, poderá estar relacionado com a tradição de se oferecer alimento aos defuntos. Do mesmo modo, o leite pode estar relacionado com as oferendas que se faziam às águas das fontes e às cobras. Uma das lendas das mouras de Formigais faz referencia à preferência das mouras por leite. Quando desencantada, a moura pode tornar-se humana e casar com o seu salvador ou desaparecer.









Fontes:
Jean Chevalier e Alain Gheerbran - Dicionário dos Símbolos
Alexander Roob - Alquimia & Misticismo
Dicionário Enciclopédico Koogan Larousse Seleções
Nicolas Flamel - Le Livre des Figures Hieroglyphiques
Edmond Valton - Monstres Dans L 'Art
John Vinycomb - Fictious and Symbolic Creatures in Art
Gentil Marques - Lendas de Portugal vol. III - Lendas de Mouros e Mouras
Biblioteca des Pleyades
Wikipedia