4 de mar. de 2012

Popol Vuh parte 3


Havendo-se aproximado o tempo da Criação, o Ajaw Tepew e o Ajaw K’ucumatz procuraram a substância para fazer a carne do homem.
Discutiram a forma de criá-la, porque os homens passados tinham saído imperfeitos.
Quatro animais deram-lhe sinal da existência das maçarocas de milho branco e milho amarelo. Estes animais foram: Yak, o Gato Montês; Utiw, o Coiote; Quel, a Pega, e Joi, o Corvo. Em Paxil e Cayalá encontraram o milho, muito milho branco e amarelo, e incontáveis anonas, ameixas, sapotas, nanças e outras espécies de frutas. Havia mel, pataxte e cacau por toda a parte.

Com o milho branco e amarelo, a avó Xmucané fez nove beberagens de cuja mistura saiu a carne e a gordura dos homens, e desta mistura foram feitos os seus braços e pés.
De milho foram formados, pelos Senhores Tepew e K’ucumatz, os nossos primeiros pais e mães.
Os primeiros homens criados foram: Balam Quitzé, o Jaguar do Suave Sorriso; o segundo, Balam Ak?ab, Jaguar da Noite; o terceiro, Majucutai, Não Polido; o quarto, Iqui Balam, Jaguar da Lua.
Grande sabedoria foi a dos primeiros homens, viram tudo quanto no mundo havia e acabaram por tudo saber. Não pareceu bem aos Criadores que os homens soubessem tanto. O Coração do Céu lançou-lhes nos olhos o bafo da sua boca, para que só pudessem ver o que está perto.
Grande foi o deleite que sentiram quando acordaram e cada um viu uma mulher a seu lado. Eis os seus nomes:
A mulher de Balam Quitzé chamava-se Cajá Paluná, Água Parada que Cai do Alto.
A segunda chamava-se Chomijá, Água Formosa e Escolhida, mulher de Ak’ab.
A terceira chamava-se Tzununijá, Água de Colibris, mulher de Majucutai.
K’aquixajá, Água de Guacamaya, era o nome da mulher de Iqui Balam.
Aqueles quatro homens foram os nossos primeiros pais, e estes são os nomes das mulheres de onde nós, os Quichés, descendemos.

Muitos multiplicaram-se no Oriente, ainda no tempo das trevas, antes de brilhar o Sol e haver luz; os Senhores Ajawab oravam constantemente, erguendo as faces para o céu:
“Óh, Tu, Criador e Formador! Ouve-nos, olha-nos, não nos deixes, não nos desampares! Tu, Coração do Céu e da Terra! Dá-nos descendência para sempre! Quando amanhecer, dá-nos bons e desafogados caminhos, dá-nos paz quieta e tranquila, dá-nos vida digna e costumes e ser. Tu, Furacão, Chipi Caculiá, Raxá Caculiá, Tepew, T’ucumatz, que nos engendraste, nos fizeste vossos filhos!”
Balam Quitzé, Balam Ak’ab, Majucutai e Iqui Balam eram quem fazia estas preces e orações.
Nesses tempos, os nossos primeiros pais não tinham ídolos de madeira nem pedra. Como desejavam possui-los, chegaram a um lugar chamado Tulán, seguidos de grande multidão de povo, onde os encontraram.
Um mensageiro de Xibalbá, o Inferno, anunciou-lhes:
“Este é o vosso ídolo; em verdade vos sustentará, substituto autêntico do vosso Criador e Formador”.
O primeiro ídolo a aparecer foi Tojil; levou-o Balam Quitzé colocado num cacaxte (caixa de madeira) pendurado nas suas costas.
Apareceu a seguir o ídolo Awilix e levou-o Balam Ak’ab.
O terceiro foi o ídolo Jacawitz elevou-o Majucutai.
Nic’aj Tak’aj era o nome do ídolo levado por Iqui Balam.
Os Quichés, os de Tamub e os de Ylocab, que eram as três parcialidades quichés, acompanharam Tojil.
E então seguiram-nos todos os povos, os de Rabinal, os Cachiqueles, os de Tziquinajá, e também os que se chamam agora Yaqui.
Muitos, a gente negra e a gente branca, saíram da aldeia de Tulán; mudou-se-lhes a linguagem e começaram a falar línguas diferentes, de modo que não se entendiam.
Ainda não dispunham de fogo; Tojil criou-o para eles, para grande satisfação dos povos, muito contentes com o calor que o fogo proporcionava.
Estava o fogo alumiando e ardendo, quando um grande aguaceiro e uma grazinada o apagaram.
Balam Quitzé e Balam Ak’ab pediram outra vez fogo a Tojil, e este, dando voltas e esfregando o caite (sandália) no chão, criou fogo de novo, e com isso Balam Quitzé e Balam Ak’ab, Majucutai e Iqui Balam se aqueceram e receberam muito consolo.
Com o grande aguaceiro e a grazinada apagara-se o lume dos demais povos e vieram todos a bater o dente, tiritando de frio, pedir a Balam Quitzé, Balam Ak’ab, Majucutai e Iqui Balam. Estes deram-lho, na condição de se unirem, e os povos aceitaram.


Houve um povo que não quis pedir o fogo, o dos Cachiqueles; protegidos pelo fumo, preferiram roubá-lo.
Só se deram por vencidos os povos que pediram o fogo e sacrificaram o sangue, extraído dos seus costados e sovacos, a Tojil.Assim lhes indicou Tojil como devia ser tirado o coração nos sacrifícios.Saindo dali, do Oriente, disse-lhes Tojil:“Não é aqui a nossa pátria. Vamos ver onde devemos povoar e semear. Que todos dêem graças.”
Furaram as orelhas e os cotovelos, trespassando-os com paus, e este sangue foi o sinal da sua gratidão para com os deuses.
Ao despedirem-se de Tulán, foi grande o seu pranto, velando a estrela que tinham por sinal do nascimento do Sol.
Atravessaram o mar, por entre as águas divididas, e passaram por cima de umas pedras.
Todos sentiam grande tristeza e praticavam jejuns, assim como abstinência sexual absoluta, quando os ídolos lhes falaram:
“Escondam-nos e ide-vos daqui, pois se aproxima o amanhecer”.
Os ídolos foram escondidos nos barrancos.
Estavam nesta confusão quando viram brilhar o luzeiro Icok’ij, Vénus, anúncio e guia do Sol; muito alvoroçados, queimaram pom (copal) que tinham trazido do Oriente.
No momento em que nasceu o Sol, alegraram-se todos os animais pequenos e grandes. O primeiro a cantar foi Queletzu, o Papagaio.


Não houve animal que não se alegrasse, as aves abriram as asas e todos dirigiram o olhar para onde nasce o Sol.
Balam Quitzé, Balam Ak’ab, Majucutai e Iqui Balam, queimando copal e bailando, dirigiram-se para o lugar onde nasce o Sol, derramando lágrimas de contentamento.

Awilix e Jacawitz, ídolos de Tojil, transformaram-se depois em pedra.
Encontravam-se no cerro Jacawitz quando amanheceu. Começaram então a procurar as corças e as fêmeas dos pássaros para oferecê-las aos ídolos.

Os Sacrificadores ofereciam a Tojil o sangue da garganta dos animais, colocavam-na na boca do ídolo e a pedra falava.

Balam Quitzé, Balam Ak’ab, Majucutai e Iqui Balam desapareceram da vista dos povos; andavam pelos cerros com as mulheres, os filhos, as moscas, as vespas e favos de mel para comer, e não se soube onde estavam as suas moradas.
 
Nos altos cerros, ouviam-se os gritos dos linces, coiotes, jaguares, e pumas, os quais imitavam os Scrificadores, inspirando muito temor a todos os povos.
A destruição dos povos iniciou-se de seguida, porque os Sacrificadores, disfarçados de animais, os sequestravam e sacrificavam aos ídolos. As tribos pensavam que os animais os tinham comido porque viam pegadas de jaguar e de outros animais.


Quando os homens começaram a ter dúvidas sobre as pegadas, reuniram-se para deliberar sobre isto e perguntaram-se:

“Que quererá isto dizer das mortes do povo, esta coisa de estarem matando um a um?”
Já havia muitos homens mortos quando de repente deixaram de ver as pegadas.
“Onde estarão os adoradores e sacrificadores? Queremos seguir as suas pegadas”, diziam as tribos.
E começaram a seguir as pegadas dos adoradores e sacrificadores.
Os adoradores e sacrificadores Balam Quitzé, Balam Ak’ab, Majucutai e Iqui Balam sacrificavam gente que assaltavam nos caminhos e ofereciam os seu sangue a Tojil, Awilix e Jacawitz.
Estavam procurando as pegadas quando começou a chover, a terra ficou enlameada e não puderam seguir em frente.
As tribos afastaram-se daquele cerro onde matavam os homens pelos caminhos para sacrificá-los ao ídolo.

Os povos reuniram-se e discutiram sobre os que deviam fazer para vencer os sacrificadores, e a primeira coisa que determinaram foi conquistar a vontade de Tojil, Awilix e Jacawitz, que haviam sido vistos em forma de mancebos quando se banhavam no rio.


Mandaram duas donzelas muito Formosas, filhas de Senhores, lavar no rio para assim seduzir os dois jovens.
Foram as duas ao rio e cada uma estava nua, lavando na sua pedras, quando chegaram Tojil, Awilix e Jacawitz.
Envergonhadas, as donzelas disseram-lhes por que estavam ali, lavando, e Tojil, Awilix e Jacawitz ofereceram-lhes uma prenda para que demonstrassem aos Ajawab que os tinham visto.
Tojil, Awilix e Jacawitz dirigiram-se a Balam Quitzé, Balam Ak’ab e Majucutai e disseram-lhes:
“Pintai num pano de linho uma imagem à semelhança do que vós sois”.

Cada um deles tomou um pano: o primeiro foi Balam Quitzé, que pintou um jaguar; o segundo Ak’ab, que pintou uma águia; o terceiro Majucutai, que pintou vespas e moscardos.
As donzelas regressaram ao sítio onde estavam os Senhores e entregaram-lhes os panos em sinal de que tinham visto Tojil.
Os Senhores envergaram os panos e os que tinham pintados um jaguar e uma águia não lhes fizeram nada, mas as vespas e os moscardos picaram-nos. Irados, perguntaram às donzelas:
“Que panos são estes que nos trazeis? Como chegaram às vossas mãos, desavergonhadas?”
 Deste modo foram vencidos os povos por Tojil.
Os Senhores Ajawab juntaram-se de novo para discutir o que fariam e decidiram declarar-lhes guerra. Armaram-se, e saíram todos em busca de Balam Quitzé, Balam Ak’ab, Majucutai e Iqui Balam; estes tinham-se entrincheirado num cerro chamado Jacawitz, em cujo cume os quatro se encontravam com as mulheres e os filhos.

O povo das tribos, armado e adornado, e os Senhores carregados de gargantilhas e de prata, iam decididos a matá-los a todos. Chegaram ao sopé do cerro e ao anoitecer deitaram-se para dormir. Vieram Balam Quitzé, Balam Ak’ab, Majucutai e Iqui Balam e pelaram-lhes as barbas, arrancaram-lhes os olhos, tiraram-lhes os colares de prata e de esmeralda calchiuite que traziam ao pescoço.
Os quatro Ajawab ergueram uma muralha em redor da aldeia, fizeram estátuas de trapos, colocaram-nas sobre as muralhas armadas de escudos e flechas e com os adornos de prata e pedra verde que tinham roubado às tribos.

Depois de consultar Tojil, Balam Quitzé, Balam Ak’ab, Majucutai e Iqui Balam puseram moscardos e vespas entre quatro cabaças e colocaram-nas em volta da aldeia.
Acorreu imensa multidão que vinha no exército das tribos; gritavam e gesticulavam, enquanto montavam apertado cerco à aldeia.
Assobiando e dando muitas palmas, em sinal de destemor, aproximaram-se da aldeia, mas os quatro Senhores, imóveis, estavam atentos a todos os movimentos do povo das tribos.
Ao destapar as quatro cabaças, saíram moscardos e vespas em tal quantidade que pareciam fumo; carregando sobre toda a gente, foram-se direito aos olhos, às bocas, aos narizes, aos braços e às pernas, picando-os por toda a parte.

Fervia bicharada sobre os soldados.
Quando os soldados já estavam num estado que pareciam borrachos, largaram as flechas e os escudos e espalharam-nos pelo chão. Balam Quitzé e os outros distribuíram paulada pelos soldados, matando muitíssimos. Aos que não mataram, fizeram-nos seus vassalos.
Foi deste modo que os nossos primeiros pais submeteram os povos.
Balam Quitzé e os outros três, ao conhecer que era chegado o seu fim, puseram as suas coisas em ordem e despediram-se das mulheres e dos filhos.

Foram dois os filhos que tiveram Balam Quitzé e Cajá Puna; um chamou-se Cocaib e o outro Cocawib, e destes descendem os da Casa de Cawec.
Balam Ak’a teve dois filhos da sua mulher Chomijá: Coacul e Coacutec, e foram fundadores da Casa de Nijaib.
Majucutai e Tzununijá só tiveram um filho, chamado Coajaw. Descendem dele os da Casa do Ajaw Quiché.
Estes três tiveram três filhos, mas Iqui Balam não teve filho algum.

Os Ajawab começaram a cantar, com um lamento muito terno. Canto e lamento chamaram-se Camacu, estando todos juntos aos despedir-se das mulheres e dos filhos.
Despediram-se deles, disseram-lhes:
 
“Escutai. Vamos partir para as vossas aldeias e não voltaremos. O Ajaw dos Veados, símbolo da despedida e desaparição, já se manifestou no céu. Chegaram ao fim os nossos dias. Cuidai das vossas casas e das vossas terras e voltai ao lugar de onde viemos.”

Deram-lhes umas vestes fechadas, cosidas as linhas, chamadas grandeza envolta, e disseram-lhes: “Isto deixamos em nossa memória e nisto consistirá a vossa grandeza e vosso senhorio”.
Assim falaram, desapareceram, e foi este o fim daqueles quatro Ajawab chamados os Venerados, que vieram do Oriente, do outro lado do mar.

E nunca mais se soube nada de Balam Quitzé, Balam Ak’ab, Majucutai e Iqui Balam.
Os filhos dos Ajawab casaram-se, tiveram descendência e, já velhos, cumpriram o mandato de seus pais e voltaram às paragens do Oriente, de onde tinham vindo.
O Ajaw que reinava no Oriente chamava-se Nacxit e o Senhor engrandeceu-os, conferindo-lhes os títulos dos seus Senhorios. Quando voltaram, manifestaram aos seus povos os despachos e oferendas que lhes tinha dado o Senhor Nacxit em sinal de Senhorio e Império.
Do outro lado do mar, do Oriente, trouxeram a sua pintura e a sua escrita.
No cerro Jacawitz, morreram as mulheres de Balam Quitzé, Balam Ak’ab, Majucutai e Iqui Balam.


Muito se multiplicaram os Ajawab, e por isso tiveram que procurar outras paragens onde habitar. Mudaram-se sucessivamente para outros quatro cerros e também aí se multiplicaram e casaram seus filhos e filhas, recebendo oferendas que lhes faziam em troca das suas filhas.
Passaram a viver no cerro Izimachi e aí construíram edifícios de pedra e cal. Na quarta geração, reinou Cotujá com o seu adjunto Xtayul, havendo três casas grandes: a do Ajaw Cawec, a do Ajaw Nijaib e a do Ajaw Quiché. Todos viviam sem pleitos nem contendas, em grande paz e tranquilidade, quando a inveja incitou os de Illocab a provocar a guerra; queriam matar Cotujá para ter Ajaw separado.
Mas o Ajaw Cotujá juntou gente e carregou sobre todos eles, sendo muitos poucos os que escaparam; os feitos prisioneiros foram sacrificados ao ídolo.

Ali, em Izmachi, desenvolveu-se o costume de oferecer sangue à divindade.
Muitos foram os que se entregaram, caindo na escravidão.
Foi este o princípio das guerras e contentas e o princípio dos sacrifícios de homens perante o ídolo.
Foi o tempo em que os quichés afirmaram o seu império porque tinham muitos Ajawab poderosos e os povos começaram a temê-los.
Estando em K’umarcaj, dividiram-se em vinte e quatro grandes casas: os de Caweb fundaram nove casas grandes, os de Nijaib outras nove, os Ajawab Quiché e os de Zaquic duas grandes casas.
Repartidos os povos entre os Ajawab, foi grande a majestade e grandeza do reino Quiché, com todas as construções em pedra e cal.
Este povos não foram ganhos com batalhas, mas com a grandeza dos Quichés e as maravilhas operadas pelos Ajawab, principalmente o Ajaw K’ucumatz, que sete dias subia ao céu, outros sete baixava ao inferno, outros sete se transformava em serpente, outros sete se transformava em águia, outros sete se transformava em jaguar, e outros sete se transformava em sangue coagulado.
Tais maravilhas infundiam grande respeito.

Durante o reinado do Ajaw Quik’ab, da sexta geração, os povos revoltaram-se e guerrearam-no.
Mas Quik’ab venceu os de Rabinal, os Cachiqueles e a gente de Zaculew, ficando todos subjugados.

Aos povos que não acudiam aos tributos, castigavam-nos e trespassavam-nos de flechas.
Todos os homens foram industriados nas artes da querra pare que todos participassem nas batalhas.

Nomearam capitães para comandar nas guerras travadas nas fronteiras e repartiram-se pelos montes.

Todos os inimigos capturados eram trazidos perante Ajaw Quik’ab e Cawizimaj, e com este exército se tornaram valentes guerreiros, muito destros no arco e na flecha. Assim pelejavam com mais ânimo.

A casa da divindade chamava-se Casa Grande de Tojil.

A primeira acção dos Senhores Ajawab e dos povos quando vinham ver o Ajaw ou trazer-lhe seus atributos, era ir à Casa Grande de Tojil, ofertar fruta ao deus.
Não estavam ociosos os Senhores Ajawab; jejuavam muitas vezes pelos seus vassalos, praticavam abstinência com as mulheres e faziam muitas penitências e orações perante a divindade, prostrando-se diante dela enquanto queimavam o seu pom.
No tempo desses jejuns e penitências comiam algumas frutas como sapotas, mata-sãos e jocotes, sem provar tortilha. Treze jejuavam e onze mantinham-se em oração.
Grande era o jejum que faziam pelos seus vassalos em sinal do domínio que sobre eles exerciam. Oravam de dia e de noite, chorando e implorando o bem para os vassalos e para todo o Reino. Em todos estes dias não dormiam com as mulheres.
Inclinados perante o deus, diziam esta oração:
“Oh, Tu, Formosura do Dia, Tu, Furacão, Coração do Céu e da Terra, Tu, Concessor da nossa glória e dos nossos filhos e filhas! Que aumentem e se multipliquem os teus apoiantes e os que te invocam pelos caminhos, nos rios, nos barrancos, debaixo das árvores e cipós; que seus filhos e filhas não encontrem desgraça nem infortúnio, nem sejam enganados, nem tropecem nem caiam, nem sejam julgados por tribunal algum. Não tombem nas alturas ou nos baixos do caminhos, nem caiam sob a alçada da violência; põe-nos no caminho bom e formoso, que não conheçam infortúnio nem desgraça.”
“Oxalá sejam bons os costumes dos que devem apoiar-te! Oh, Tu, Uc’ux Caj, Coração do Céu; Uc’ux Ulew, Coração da Terra! Oh, Tu, Envoltório da Glória e Majestade! Tu, Tojil, Awilix, Jacawitz, Ventre do Céu, Ventre da Terra! Oh, Tu, que és os Quatro Cantos do Mundo, faz com que haja Paz na tua Presença! Oh, Deus!”
A oração, o jejum e a penitência que ali se faziam eram o preço a pagar pela claridade e bons sucessos e o mando e o senhorio dos Senhores Principais. Sucediam-se a dois e dois, no levar desta carga dos povos que sobre eles recaía.
Balam Quitzé, Balam Ak’ab, Majucutai e Iqui Balam foram os nossos primeiros pais e avós de todos nós, os Quichés, sendo nossas primeiras mães e avós suas mulheres Cajá Paluná, Chomijá, Tzununijá e K’aquixajá.
Estas são as histórias do Quiché e do que ali se passou; escreveu-se agora tudo isto porque, embora havendo antigamente um livro onde estas coisas constavam, perdeu-se com tudo o que continha.
E assim se acabou o que diz respeito ao Reino de Quiché, chamado agora de Santa Cruz.