...A Crónica de Akakor, a história escrita do meu povo, começa na hora zero, quando os Deuses nos deixaram. Nessa época, Ina, o primeiro príncipe dos Ugha Mongulala, resolveu que tudo quanto acontecesse fosse narrado com boas palavras e numa escrita clara. E assim, A Crónica de Akakor é testemunha perante a História do mais antigo povo do mundo, desde o início, a hora zero, quando os Primitivos Mestres nos deixaram, até ao momento actual, quando os Bárbaros Brancos estão a tentar destruir o nosso povo. Explica o testamento dos Antigos Pais - o seu saber e a sua prudência. E descreve a origem do tempo, quando o meu povo era o único do continente e o Grande Rio ainda corria de um e de outro lado, quando o país era ainda plano e suave como o lombo de um cordeiro. Tudo isto está escrito na crónica, a história do meu povo, desde a partida dos Deuses, a hora zero, que corresponde ao ano de 10.481 a. C. de acordo com o calendário dos Bárbaros Brancos.

...Grande era o conhecimento dos Primitivos Mestres e grande era a sua sabedoria. A sua visão alcançou as colinas, planícies, florestas, mares e vales. Eram seres milagrosos. Conheciam o futuro. A verdade fora-lhes revelada. Perspicazes, eram capazes de grandes decisões. Ergueram Akanis, Akakor e Akahim. Na verdade, os seus trabalhos eram poderosos, como o eram os métodos que usavam para os criar: a maneira como determinaram os quatro cantos do universo e os seus quatro lados. Os senhores do cosmo, seres do céu e da terra, criaram quatro cantos e quatro lados do universo. Akakor agora está em ruínas. A grande entrada de pedra está destruída. Cipós crescem no Grande Templo do Sol. Por minha ordem, e de acordo com o Supremo Conselho e os sacerdotes, os guerreiros Ugha Mongulala destruíram a nossa capital há três anos. A cidade teria traído a nossa presença perante os Bárbaros Brancos e, assim, nós abandonamos Akakor. O meu povo fugiu para os abrigos subterrâneos. A última dádiva dos Deuses. Temos treze cidades, profundamente ocultas nas montanhas que se chamam Andes. O seu plano corresponde à constelação de Schwerta, a pátria dos Antigos Pais. A Baixa Akakor fica no centro. A cidade fica assentada numa caverna gigantesca feita pelo homem. As casas, ordenadas em círculo e contornadas por uma muralha decorativa, têm no centro o Grande Templo do Sol. Tal como na parte superior de Akakor, a cidade está dividida por duas ruas em cruz, que correspondem aos quatro cantos e aos quatro lados do universo. Todas as estradas lhes são paralelas. O maior edifício é o Grande Templo do Sol, com torres que sobem além dos edifícios onde estão instalados os sacerdotes e os seus criados, do palácio do príncipe, das instalações dos guerreiros e das mais modestas casas do povo. No interior do templo há doze entradas para os túneis que ligam a Baixa Akakor com outras cidades subterrâneas. Têm paredes inclinadas e um teto liso. Os túneis são suficientemente largos para comportar cinco homens lado a lado. Qualquer das outras cidades fica a grande distância de Akakor. Doze das cidades - Akakor, Budo, Kish, Boda, Gudi, Tanum, Sanga, Rino, Kos, Amam, Tata e Sikon - são iluminadas artificialmente. A luz altera-se de acordo com o brilho do Sol. Só Mu, a décima terceira e a menor das cidades, tem altas colunas, que atingem a superfície. Um enorme espelho de prata espalha a luz do Sol sobre toda a cidade. Todas as cidades subterrâneas são cruzadas por canais que trazem água das montanhas. Pequenos afluentes fornecem edifícios individuais e casas. As entradas na superfície estão cuidadosamente disfarçadas. Em caso de emergência, os subterrâneos podem ser desligados do mundo exterior por grandes rochas móveis que servem de portões. Nada sabemos da construção da Baixa Akakor. A sua história perdeu-se na escuridão do mais remoto passado.
Mesmo os soldados alemães que viveram com o meu povo não conseguiram esclarecer este mistério. Durante anos mediram os subterrâneos dos Deuses, exploraram o sistema de túneis e procuraram o sistema de respiro, mas sem terem o mínimo êxito. Os nossos Primitivos Mestres construíram as habitações subterrâneas de acordo com os seus próprios planos e leis, que nos são desconhecidos. Daqui governavam o seu vasto império, um império de 362.000.000 de indivíduos, tal como se afirma na Crónica de Akakor. E os Deuses governaram Akakor. Governaram sobre os homens e sobre a Terra. Tinham navios mais rápidos que o vôo das aves, navios que atingiam os pontos a que se destinavam sem velas nem remos, tanto de dia como de noite. Tinham pedras mágicas por onde viam a distância, de modo que podiam ver cidades, rios, colinas, e lagos. Tudo quanto acontecia na Terra e no Céu se refletiam nessas pedras. Mas as habitações subterrâneas eram as mais maravilhosas. E os Deuses deram-nas aos seus Servos Escolhidos como última dádiva. Para os Primitivos Mestres são do mesmo sangue e têm o mesmo pai. Durante milhares de anos, as habitações subterrâneas protegeram os Ugha Mongulala dos seus inimigos e suportaram duas catástrofes. Os ataques das tribos selvagens não tinham êxito contra os seus portões. No interior, os últimos homens da minha raça esperam a vinda dos Bárbaros Brancos, que avançam pelo Grande Rio, num número infinito, tal como formigas. Os nossos sacerdotes profetizaram que em última análise descobrirão Akakor e que nela encontrarão a sua própria imagem. Então o circulo fechar-se-á...
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