Apartir do minuto 12:45, Agostinho da Silva aborda a sua visão pessoal do V Império, com base na "Ilha dos Amores", de Camões, e salienta que: "...é preciso que os corpos se apaziguem para que a cabeça possa estar livre para entender o mundo à volta ... enquanto nós estamos perturbados por existir num corpo que temos de alimentar, que temos de tratar o melhor possível, cometendo para isso muitas vezes coisas extremamente difíceis ... nessa altura, com a nossa cabeça livre e límpida, nós podemos ouvir a voz da deusa, que nos arranca das limitações do tempo e do espaço..."
Nabucodonosor, William Blake |
Em Portugal, Bandarra, Padre António Vieira e Fernando Pessoa reformulam o mito do V Império. Fernando Pessoa, em Mensagem, anuncia um novo império civilizacional, que, como Vieira, acredita ser o português. O "intenso sofrimento patriótico" leva-o a antever um império que se encontra para além do material: "O Quinto Império. O futuro de Portugal - que não calculo, mas sei - está escrito já, para quem saiba lê-lo, nas trovas do Bandarra, e também nas quadras de Nostradamus. Esse futuro é sermos tudo."
Quinto Império
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz -
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa - os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
V Império, Dealema
Estava escrito nos astros, o encontro dos estádios
Depois de atravessadas as montanhas e os desertos áridos
Os percursos levaram-nos à encruzilhada
Em sintonia máxima e sincronia elevada
Reunir os seus poderes no altar da deusa Gaya
Num nível espiritual mais alto que os Himalaias
Em rituais ancestrais, pactos de sangue mentais
Partilharam a energia e poderes sobrenaturais
Caminharam por vales com abutres e carcaças
Sobreviveram a emboscadas e terríveis ameaças
Ao longo da travessia pela estrada
Na escalada da muralha ou de espada em punho na frente da batalha
Passar por vários episódios para cumprir a profecia
Arquitectaram magníficos colossos com mestria
Conscientes da missão carregam com orgulho a cruz
Sabem que a escuridão não sobreviverá à luz
Secretos como doídas encantações em canções
Poção dealmática, batalha maquiavélica
Trepamos pela escuridão, pulsação de Dragão
Círculo de fogo, a revolução é esférica
Manuscritos, máquinas de metáforas
No século XVI seríamos perseguidos
O tempo dealmático já nasceu subterrado
2º Piso é mental, não pode ser destruído
Fumadores de Iluminismo
Abrimos mentes a sangue frio como médicos no antigo Egipto
Culto ao culto, fumo no fundo
Bombos anunciam a chegada de outro mundo
Juntem os vivos ao mundo dos espiritos
Juntem Deuses, profetas e filósofos
Impacto dealmático, abrimos buracos no espaço
Segunda vinda, a terra gira ao contrário
V Império em rotação
Esfera dealmática e centro hélico
Segunda Vinda
5 elementos, entra no templo
Cuspimos fogo numa era onde a música é magia
Ascensão e invasão no altar do templo
Contemplo tribos e legiões, viajantes do tempo
Que todos venham testemunhar a mensagem divina
Das terras distantes do Vaticano à cidade da Medina
Poder do ceptro, ao vivo e em directo
O pentágono está alinhado, o portal está aberto
Versos materializam-se algures entre o mental e o físico
Sincronia perfeita, transe colectivo
Levamos-te a um sítio onde nunca foste antes
Fecha os olhos e concentra-te só por instantes
Sente-o denso demais, um pensamento profundo
Redigido algures entre o Paraíso e as Trevas deste mundo
Já estava escrito, profética segunda vinda
DLM legacia que não finda
Espírito naval, ancestral de conhecimento
Espande a tua perspectiva, chegou agora o momento
Ouvem-se coros de contestação
A multidão reúne-se e gera pressão
Droga mental no palco um ritual
Fumo um lenço de erva e um fumo de incenso
Dá-se início ao transe colectivo
Chegam os descendentes das 12 tribos
Para uma nova manifestação
é o tempo dealmático em movimento
Abrimos portais dimensionais
Rimamos, causamos tempestais mentais
Imortais
Através dos tempos, nós elevamos o pensamento
Acima das nuvens condensamos conhecimento
Através do tempo
Acima das nuvens elevamos o pensamento
Através do tempo
Inda que estem remoendo não me toquem no calçado. |
Gonçalo Anes nasceu em 1500, em Trancoso, e terá falecido por volta de 1556; foi sapateiro, poeta, e era considerado uma espécie de Rabi local, interpretando a Bíblia e as suas profecias para os cristãos-novos da região. Bandarra de apelido, que o ligava ao ócio, já que costumava sentar-se numa pedra todas as noites, no alto do monte mais próximo da vila, para contemplar as estrelas. Um dia os seus amigos decidiram pregar-lhe uma partida, colocando uma folha de pergaminho debaixo da pedra, e esconderam-se para observar a sua reacção - Bandarra senta-se e exclama, admirado: "Ou a Terra subiu, ou o Céu desceu!"
Foi conterrâneo de Nostradamus (1503-1566).
Foi preso pela inquisição e acusado de ser judeu; não havendo no entanto provas da sua ascendência judaica, mesmo assim foi levado a auto-de-fé, sendo obrigado a abjurar dos seus "erros". Na sua sentença lê-se: "que publicamente declare a sua tenção àcerca das Trovas que tem feito (...) e que daqui por diante não se entremeta mais a responder nem a escrever coisa nenhuma da Sagrada Escritura, nem tenha nenhuns livros da mesma, salvo sendo o "flor santorum" ou "evageliorum" sòmente, e fazendo o contrário será castigado como o caso merecer, e se publicará que qualquer pessoa que tiver as ditas Trovas as apresente à Santa Inquisição, dentro de três dias que vier a sua notícia e o que puder fazer". Estavamos no ano de 1545, e Bandarra remete-se então ao anonimato, até à data de sua morte. As trovas foram incluídas na lista de livros proibídos em 1581.
No ensaio "As Trovas do Bandarra, suas Influências Judaico-cabalísticas na Mística Paz Universal", de Adriano Vaz Rodrigues e Maria Assunção Rodrigues, os autores lançam a ideia de que as trovas não são originais, mas sim cópias, e poderiam ter sido adulteradas pela Inquisição, citando inclusivé René Guénon: "As predições são sempre um meio de sugestão directa que contribui para determinar a produção de certos acontecimentos futuros."
Mesmo sendo difícil comprovar a autenticidade das trovas, deixo aqui algumas passagens que me chamaram a atenção pela beleza da linguagem usada, pela sua introdução à ideia da segunda vinda e pela figura do encoberto, e a sua interpretação das profecias de Esdras.
trova 75
Já o Leão é experto
Mui alerto.
Já acordou, anda caminho.
Tirará cedo do ninho
O porco, e é mui certo.
Fugirá para o deserto,
Do Leão, e seu bramido,
Demonstra que vai ferido
Desse bom Rei Encoberto.
trova 76
O Rei novo és escolhido
E elegido,
Já alevanta a bandeira
Contra a Grifa parideira
Que tais pastos tem comido;
Porque haveis de notar,
E assentar
Aprazendo ao Rei dos Céus
Trará por ambas as Leis,
E nestes seis
Vereis coisas de espantar.
trova 77
A Lua dará grão baixa,
segundo o que se vê nela,
e os que têm lei com ela,
porque se acaba a taixa.
Abrir-se-á aquela caixa,
que até agora foi cerrada
entregar-se-á à forçada,
envolta na sua faixa.
trova 78
Um grão Leão se erguerá,
E dará grandes bramidos:
Seus brados serão ouvidos,
E a todos assombrará;
Correrá, e morderá
E fará mui grandes danos,
E nos Reinos Africanos
A todos sujeitará.
quadra 138
Acho em as Profecias
Que a terra tremerá
E como abobada soará
Quando faz harmonias.
quadra 142
Vejo o mundo em perigo,
Vejo gentes contra gentes;
Ja a terra não dá sementes,
Senão favacas por trigo.
quadra 144
Vejo quarenta e um ano
Pelo correr do cometa,
Pelo ferir do planeta
Que domostraser grão damno.
quadra 145
Vejo um grande Rei humano
Alevantar sua bandeira,
Vejo como por peneira
A Grifa morrer no cano.
quadra 149
Vejo um alto engenho
Em uma roda tryunfante,
Vejo subir um Infante
No alto de todo o lenho.
quadra 152
Vejo sahir um fronteiro
Do Reino detrás da serra,
Desejoso de por guerra
Esforçado cavalleiro.
quadra 153
Este será o primeiro,
Que porá o seu pendão
Na cabeça do Dragão,
Derruba lo há por inteiro.
quadra 156
Todos terão um amor,
Gentios como pagãos,
Os Judeos serão Christãos,
Sem jamais haver error.
quadra 157
Servirão um so Senhor
Jesu Christo, que nomeio,
Todos crerão, que ja veio
O Ungido Salvador.
quadra 159
Acharão, que nestes dias
Serão grandes novidades,
Novas leis, e variedades,
Mil contendas, e porfias.
sexta parte
1
Sonhei que via hum fumo,
Com grande força sahir,
E deixando de Subir,
Hum altar vi no escuro:
Formava taõ forte muro.
Que estava o Altar cuberto;
Vi a hostia naõ mui perto,
Do tal Altar arredada:
Huma cára sublimáda,
Em ella vi por mais certo
2
Pareceme que crescia,
Quem assim o figurava:
Taõbem sonhei me pegava,
Quem mulher me parecia:
E que com voz me dezia,
Anda ver a terra nova,
Pella maõ levou-me à cova,
Levava bello vestido,
Aí nuvems eu fui subido,
Onde vi a gente toda.
3
Parecia a meo ver
Nova Igreja figurada,
Por hereges desterráda,
Na quella terra a tremer,
Quem Herege quizer ser
Ficarà negro, ou molato,
E terà todo o máo trato
Por fugir da boa Ley,
No Inferno sua grey
Para tràz darà o Salto.
outras profecias
24
Os tempos vejo turbados
O inverno feito verão
Os seleiros sem um grão
Os lavradores pasmados.
25
Terras, montes estaes vendo
Trevoens e coriscos taes
Os defuntos serão mais
Que os que ficão vivendo.
26
Quando ouvirem mudanças
Nas alcançarias são
Tambem terá divizão
Da herezia as bonanzas.
27
Depois de veres cumprido
O fim destas profecias
Não faltarão muitos dias
Que o rebanho seja unido.
28
Não deito mais longe a barra
Fico batendo na testa
Attendão todos a esta
Profecia do Bandarra.
29
Depois de tido por morto
Sem nunca ser sepultado
Nos será outra vez dado
Para nosso maior conforto.
30
Depois de penalidades
Cazos nunca esperados
Surgiráõ os encantados
Trazendo-nos felicidades.
31
Depois de muitos destrossos
Em muitas partes do mundo
Virá ao Tejo dar fundo
Quem se crê já não ter ossos.
32
Haverá grande tremor
Hum perfido haverá,
Cometa aparecerá
E um gigante percursor.
33
Tres pés o tripessa tem
O arco sem settas vejo
Parte uma peneira ao meio
E no meio hum botão lhe poem.
34
O cravador lhe ajunta
A tezoura bem aberta
Esta é a conta certa
Se o não sabes pergunta.
35
Peguei na minha tripessa
Puz-lhe em cima um dado
Duas luas e hum cabo
E hum - percebê - lhe poem.
36
Meia tesoura de pressa
Lhe ajuntei - mais hum fio
Entra Portugal em brio
E seu sentido penetras
No anno que houver essas letras
Virá essa boa pessa.
Profecias de Esdras
Tempos vir-hão de grandes levas militares; sophismar-se-ha a verdade, e o paiz sera esteril de religião; a injustiça se multiplicará, e por ella o paiz ficará dezerto. Se porém Deus te conservar a vida verás depois de passadas trez trombetas (guerras); de repente o sol resplandecera de noute; a lua trez vezes se mostrará no dia; do pau emanará sangue; as pedras estouraráõ; commover-se-hão os povos, e reinará aquelle que, os habitam sobre a terra, não esperarão: as aves emigrarão; o mar Sodomitico lançará fora os peixes, ululará de noute com uma braveza não vista de muitos; muitos lugares por suas enchentes serão redusidos a cabos; haverá incêndios, as feras agrestes virão metter-se no povoado; as mulheres menstruadas pariráõ monstros, as aguas doces tornar-se-hão salgadas, e todos os amigos se combateráõ uns aos outros; o senso terá de esconder-se; a intelligencia terá de recolher-se ao seu receptaculo, será procurada por muitos, mas não será encontrada; o futilismo, a injustiça, a inconticencia, e prostituição se augmentará sobre a terra. E proguntará um paiz ao seu vizinho, dizendo-lhe: Por ventura por tua caza passou a justiça deixando-te alguma obra boa; E responderá, - Não. Será nesse tempo: os homens esperaráõ; mas não alcançaráõ; trabalharáõ, e as suas vias não serão dirigidas.
Ai de ti, Babylonia e Asia; Egypto e Syria. Cingivos de saco e silicio, pranteai e chorai os vossos filhos; porque as vossas dores, e martirios estão chegadas. A espada está pendente sobre vós, e quem há que possa desviar o golpe? Foi-vos lançado o fogo, e quem há que o apague? Forão-vos lançados os males, e quem há que os repila? Por ventura repellirá alguem o leão que no bosque anda desesperado com a fome, ou extinguirá o fogo na estopa logo que começa a atear-se?
Por ventura poderá alguém desviar a setta atirada por um braço dextro e forte? O Senhor, Deus forte, laçou-vos os males, quem haverá que os possa repelir? Da sua ira saiu o fogo, quem o extinguirá? Vibrará o corisco, e quem não temerá? Trovejará, e quem não se encherá de pavor? O Senhor fulminará castigos, e quem não se afligirá de ser triturado para longe da sua face?
A terra tremeu e os seus alicerces; o mar sahe de seu leito, as suas oudas se confumdem no embatte, os peixes se perturbaráõ á face do Senhor e do seu poder; por quanto é forte a mão daquelle, que tocca o arco; as settas que dispara são aguadas e afiadas, não falharáõ, quando principiarem a ser attiradas para os comfins da terra.
Serão enviados à terra os males e não retrocederão. O volcão se accenderá, e não se extinguirá, em quanto não comsumir os fundamentos da terra. Ai de todos naquelles dias!! Dias, que são o comezo da dôr, do pranto, da fome, grandes mortes, e guerras; os poderozos tremeráõ de pavor e de susto, e todos se amedrontaráõ só ao ver o começo destes males. Estes males chegaráõ, mas não converterão; por isso virá a fome e a mizeria, a tribulação e a angustia para emenda, e ainda assim com isto tudo ninguem se emendará de suas iniquidades, nem se lembrarão dos males soffridos. Eis que succederá a vileza do mantimento sobre a terra, e então se gerarão males sobre ella; a guerra, a fome, e a grande confusão. Pela fome morrerão muitos, a guerra matará os que escaparão de morrer á fome; os mortos serão lançados de um para outro pouzo como se fossem montes de esterco, e não haverá quem lhes dê as últimas consolações. A terra ficará dezerta, as suas cidades serão lançadas por terra; não haverá quem cultive os campos, nem sobre elles lance a semente. As arvores darão o fructo, mas quem o apanhará? A uva amaraducerá, mas quem della fará o vinho? Desejará o homem ver outro homem, ouvir a sua voz; mas onde o encontrará? Porque da cidade ficarão dez; do campo dois, que terão escapado na densidade dos bosques; ou na abertura das rochas. Os campos encher-se-hão de espinhos, as estradas de cardo e gataria, porque não haverá quem por ellas passe e transite. As virgens chorarão porque não encontrarão espozos; as mulheres, porque não tem maridos, chorarão a sua viuvez; as filhas o seu desamparo. Os seus espozos se terão gasto na guerra, e os cazados se terão extenuado á fome...
fontes:
Infopédia
As Profecias do Bandarra, Sapateiro de Trancoso, Vega
As Trovas do Bandarra, suas Influências Judaico-cabalísticas na Mística Paz Universal
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