10 de abr. de 2019

A Ustacha


Julho de 1917. O tempo está óptimo em Corfu. É um oásis de calma, enquanto a guerra ruge ao longe, por toda a Europa. Há já alguns meses que as tropas sérvias estão reagrupadas nesta ilha, juntamente com milhares de civis que fugiram ante a invasão das forças combinadas da Áustria-Hungria, da Alemanha, e da Bulgária. No reino da Sérvia, já nada resta. Corfu é a etapa de repouso, após a longa e extenuante marcha através das montanhas feita pelo que resta dos elementos dispersos do exército sérvio, perseguidos pelas tropas dos Impérios Centrais.
Quando reagrupados e rearmados, os regimentos sérvios voltam a partir para o combate, em direcção a Monastir e Salónica, três homens conferenciam na vivenda posta à disposição pelo rei Pedro I da Sérvia.
O monarca, o seu chefe de governo - o velho Pachitch - e ex-alcaide de Spalato (Split para os servo-croatas), Trumbitch. Este último é o chefe do partido nacionalista croata. Em 1905, foi ele um dos artífices da "Revolução Fiume", que marcou o início das manifestações a favor da união dos croatas, dos eslovenos e dos sérvios.
Estranho colóquio, este de julho de 1917, onde, enquanto a sorte das armas ainda nada decidiu, um sonho secular vai subitamente criar corpo. Animados por uma singular fé no futuro, Trumbitch, Pachitch e Pedro I formam o projecto de construir uma pátria comum: reunir sob um só Estado, realizar a unidade dos três ramos da grande família dos Eslavos do Sul, que seria colocada sob a soberania de Pedro I da Sérvia.
Os projectos de Corfu agradam a todos os eslovenos, a todos os croatas? As coisas, regra geral, não são assim tão simples. Mas, em Corfu, tudo parece claro.
Trumbitch não veio com vários responsáveis croatas propor a união aos sérvios? Não se fazem ouvir outras vozes quando, ainda antes da queda dos Habsburgos, sob a inspiração do chefe dos eslovenos, o abade Karochetz, no decurso de um congresso reunido em Laibach (a futura Ljubkjana) pede por sua vez a união dos jugoslavos (cujo nome significa eslavos do Sul)?
A partir de então, enquanto se desenha a vitória dos Aliados contra os Impérios Centrais, a ideia  da união dos eslavos do Sul abre caminho e, em outubro de 1918, numa altura e que a Dupla Monarquia está em decomposição. Zagreb vê abrir-se um congresso nacional dos eslavos do Sul, onde se encontram, lado a lado, croatas, eslovenos, dálmatas, bósnios e herzegovinos; todos estão de acordo em adoptar uma resolução de união em trono da Sérvia. Em novembro do mesmo ano, a Assembleia de Montenegro, descontente com a atitude do Rei Nicolau, repudia o soberano e vota igualmente a união à Sérvia.
Para os nacionalistas sérvios, para o movimento pan-eslavo, a hora há tanto esperada chegou.
A 1 de dezembro de 1918, 20 dias após o armistício, o príncipe Alexandre, tornado regente do reino em consequência da retirada do seu pai, Pedro I da Sérvia (será proclamado rei em 1921), aceita render-se ao voto formulado pelos diferentes grupos étnicos. Em março do ano seguinte, a Assembleia Sérvia, Skoputchina, reúne em Belgrado os delegados de todas as regiões a partir de então chamadas a viver em comum.  A união dos jugoslavos será sancionada. É o delírio colectivo, a desforra da derrota de Kossovo.
Diplomaticamente, o tratado de Saint-Germain, concluído com a Áustria, e o de Triana, assinado com o império Húngaro, vêm determinar os limites do reino.
Croácia, Eslovénia e Dalmácia são atribuídas sem dificuldades à Sérvia? Do lado de Banat de Temesvar eleva-se, com a Roménia, uma contestação, que termina em partilha.
A região de Klagenfurth continua a pertencer à Áustria, após o plebiscito. Mas é a propósito da Istria e das ilhas Dálmatas que se põem então questões extremamente espinhosas.
Face às pretensões dos eslavos do Sul, a Itália insurge-se hoje, como a Dupla Monarquia antes da guerra. Eis os motivos:
No início da guerra, a Itália rompeu a Tríplice Aliança (Alemanha-Áustria-Hungria-Itália), para alinhar na Entente (França-Inglaterra-Rússia). As pretensões dos austríacos sobre os Balcãs pareciam-lhe de molde a romper o equilíbrio de forças. Por outro lado, a Itália esperava de uma vitória dos Aliados a recuperação de Trentino, de Trieste, e se possível da costa Dálmata, que pertencera anteriormente à Republica de Veneza.
Hoje, muda de atitude. O novo rei da Sérvia vem, no fim das hostilidades, fazer sombra às reivindicações italianas sobre certas zonas das margens do Adriático.
Aquando das reuniões de Paris, preparatórias da paz de Versalhes, o delegado italiano, Orlando, faz valer as promessas feitas pelos Aliados em favor do seu país num acordo secreto assinado em Londres no início das hostilidades e que foi decisivo para chamar a Itália ao campo dos Aliados, a despeito dos esforços do ex-chanceler alemão, von Bulow, enviado a Roma com a missão de tentar reter a Itália na Tríplice Aliança.
Assim, no fim da guerra, a Itália reclama o que considera ser-lhe devido, isto é, as suas pretensões de 1914 sobre as costas dálmatas. Ora, estas regiões são povoadas por uma maioria de eslavos. Evocar a presença italiana nas costas dálmatas é para os eslavos do Sul a quadratura do círculo, o regresso a um domínio outrora exercido pelos austríacos e de que os jugoslavos se julgavam justamente livres.
Enquanto a conferência dos embaixadores, reunida em Paris, se encarrega da aplicação do tratado de Versalhes, o poeta italiano Gabrielo d'Annunzio e os seus partidários marcham sobre Fiume e colocam as grandes potências face a um facto consumado.
Se, na cidade, uma grande parte da população é italiana, o porto, ainda que mediocremente equipado, deveria constituir para os sérvios uma necessária saída para o Adriático, uma vez que Trieste volta À Itália.
A 12 de novembro de 1920, na conferência de Rapallo, as potências vitoriosas julgam sair do impasse declarando cidade aberta a zona contestada.
Os italianos nem por isso deixam de prosseguir a sua ocupação. Finalmente, em 1924, a conferência dos embaixadores decide-se a atribuir à Itália a cidade em litígio, exceptuando o arrabalde de Susak, de maioria eslava, e a localidade vizinha de Porto Barros.
Toda a costa dálmata é cedida à Sérvia, com excepção de Zara e de algumas ilhas de importância estratégica.
Era abrir, entre italianos e eslavos, um contencioso espinhoso, e favorecer, com a conivência da Itália, tornada mussoliniana, o estabelecimento de bases para os separatistas de todas as cores que aceitarão mal a vontade centralizadora de Belgrado, exercida com pouca perícia sobre povos tão recentemente unidos.
Seja como for, a Sérvia de 1918 tornou-se um Estado importante: território mais do que duplicado, população triplicada, passando de 5 para 15 milhões de habitantes. Muda igualmente de nome, para se tornar o Reino dos Sérvios, dos Croatas e dos Eslovenos.
Em Belgrado, é imediatamente convocada uma representação provisória para votar uma Constituição: primeira reunião oficial de todos os jugoslavos - isto é, sérvios, croatas, eslovenos, dálmatas, montenegrinos, bósnios, herzegovinos e macedónios...
À febre da união não tarda a suceder-se a decepção, e depois o rancor. As populações outrora repartidas por 5 soberanias diferentes - Sérvia, Montenegro, Áustria-Hungria, Turquia - têm dificuldade em encontrar um novo modus vivendi... Diferenças de cultura, de região, de escrita, de pólos de atracção, não se apagam com um toque de varinha mágica. A oposição mais evidente reside nas diferenças entre sérvios e croatas. Os primeiros, ortodoxos, utilizando para a escrita os caracteres cirílicos, são e continuam a ser atraídos pela Rússia; alguns deles pelo bolchevismo. Os croatas, pelo contrário, estão ligados ao catolicismo, escrevem em caracteres latinos e a sua igreja mostra-se rebelde à submissão a qualquer poder temporal. O governo de Belgrado demonstra uma certa desconfiança em relação à antiga nobreza austro-húngara e abstém-se de incorporar no jovem exército jugoslavo oficiais que são os inimigos de ontem.  Na Macedónia, numerosos grupos étnicos anexados são búlgaros de coração e odeiam os sérvios. Eis o pano de fundo.
A realidade política, à partida, mascara questões muito mais profundas. Se, em 1919, os partidários da centralização levam a melhor, se é constituído um governo onde vemos lado a lado o sérvio Protich, o esloveno Korochetz, o croata Trumbitch, a crise não tarda a fazer-se sentir: para além das batalhas políticas no campo fechado da Skuptchina entre os radicais do velho Pachitch (são muito conservadores), os liberais (mais francamente democráticos), os comunistas têm 54 deputados na assembleia e pouco depois são colocados fora da lei pelo governo devido a um atentado perpetrado por um filiado do partido contra o partido do Interior, um facto continua evidente: o mosaico de povos cujas evidências parecem doravante unidas só poderá subsistir duravelmente com a condição de se criar um sistema federalista muito amplo.
As populações apercebem-se das sérias diferenças que as separam. Os recém-chegados queixam-se de serem oprimidos pelo centralismo excessivo e pela burocracia de Belgrado.
"Para os sérvios - dizem - as situações; para nós, os impostos."
Os croatas mais ricos pensam que os fundos recolhidos nas novas províncias são sobretudo utilizados
para melhorar a condição relativamente atrasada da velha Sérvia. A voz dos croatas ergue-se com tão maior autoridade quanto se encontram solidamente agrupados em torno de Raditch, chefe do partido dos camponeses. Se, finalmente os croatas se resignam a aceitar a Constituição jugoslava, não tardam a aliar-se aos partidos da oposição para combater o governo. Com a morte de Pachitch, um dos artífices da reunificação jugoslava, em 1926, e a eclosão de uma nuvem de partidos políticos, torna-se impossível obter uma maioria estável. As crises ministeriais sucedem-se.
É necessário fazer um retrocesso, se queremos ver claro nesta situação. Quando, em 1917, um certo numero de responsáveis croatas se mostram partidários da união com a Sérvia, nada está ainda resolvido na Croácia.
Em 1918, na Dieta Croata de Agram (nome austríaco de Zagreb), o Sabor, decidiu, é verdade, a separação do Império de Habsburgo, cujo fim se adivinha próximo. Mas não ficou de modo algum assente fundar um Estado em comum com os sérvios.
Sabor foi abolido. Através de uma espécie de golpe de Estado, foi constituído um "conselho do povo", com vagas semelhanças àquilo a que se poderia chamar uma representação democrática do povo croata.
Este "conselho" decidiu a reunificação da Croácia com a Eslováquia e a Sérvia num só reino, sob a dinastia sérvia dos Karageorgevitch.
A grande massa do povo croata não se aliou de modo algum a esta resolução, adoptada por processos muito pouco democráticos. Mas encontrou-se colocada ante um facto consumado. Houve reuniões populares apaixonadas, protestando contra a ideia de um Estado único dos eslavos do Sul, mas foram dispersadas com efusão de sangue. O Sabor, de resto, não foi dissolvido nem reconvocado. Ante as medidas de repressão decididas por Belgrado, o partido croata não teve outra solução além do refúgio numa resistência passiva. Foi assim que os croatas se recusaram a tomar parte no estabelecimento de estruturas políticas e administrativas do novo Estado.
É assim que a Constituição jugoslava, elaborada em Belgrado no sentido do centralismo, é preparada sem a colaboração do povo croata. E foi só 6 anos após o nascimento do reino sérvio-esloveno, como ao princípio lhe chamaram, que se correu o risco de anunciar eleições gerais, que tiveram como resultado, na Croácia, a derrota absoluta da ideia de um Estado único, pois o partido que mais se lhe opunha obteve uma estrondosa vitória nesta luta eleitoral: trata-se do Partido Camponês Republicano da Croácia, cujo chefe era Stiepan Raditch. Este, tornou-se o chefe quase lendário do nacionalismo croata.
Os deputados croatas mantinham-se afastados do Parlamento de Belgrado, a fim de deixarem bem claro que consideram não ter o novo Estado uma existência legal.
A partir de então, o diferendo entre sérvios e croatas não deixou de agravar-se: os sérvios insistindo em impor, e com falta de subtileza, a ideia do centralismo aos croatas, estes opondo-se-lhe por todos os meios. Em 1925, os partidos e as organizações nacionais croatas, incluindo todas as associações de carácter confessional, foram dissolvidos por ordem de Belgrado, por hostis ao Estado. Aproveitou-se para isto um atentado cometido contra o ministro do Interior, ainda que os croatas não tenham tido, e isto sabe-se perfeitamente, qualquer espécie de relação com os assassínios de Milorad Draskovitch.
Não foi então necessária a intervenção directa da França para evitar a guerra civil e o desmembramento do novo Estado? Raditch modificou a sua atitude e reconheceu a dinastia reinante dos Karageorgevitch. A política de abstenção era abandonada.
O status quo, porém, foi de curta duração.  
20 de junho de 1928. É o drama. A Assembleia Nacional, no coração de Belgrado, é teatro de um drama de loucura. Sérvios e croatas enfrentam-se no hemicíclo. Em plena sessão, um deputado montenegrino, Punitsa, mata a tiros de revólver dois dos seus colegas croatas e fere mortalmente Raditch. O gesto de um louco reabre o fosso entre sérvios e croatas. Imediatamente, os deputados croatas abandonaram o Parlamento. Uma vaga de nacionalismo exacerbado sacode os povos unidos ao reino da Sérvia. O regime está absolutamente desacreditado. Torna-se impossível governar.
Politicamente, é o momento escolhido pelo rei Alexandre para agir. A 6 de janeiro de 1929, estabelece a "ditadura real", suspende a Constituição, pronuncia a dissolução do Parlamento. A ditadura é a dos sérvios, do seu exército e da sua polícia. O Estado toma o nome de Jugoslávia. Alexandre quer afirmar ainda mais, se possível, o carácter centralizador e unitário do novo regime. Rapidamente, é proibida toda a actividade de partidos políticos, todos os partidos e organizações nacionalistas croatas são dissolvidos.
O rei acaba de cortar todas as pontes, retirando a si mesmo a possibilidade de vencer a crise através de negociações com os croatas, procurando com eles vias de compromisso. Consequência lógica: o que não pode ser tolerado legalmente - ou melhor, ditatorialmente - encontra o seu fermento na clandestinidade.
Assim nascem, entre as correntes de nacionalismo que agitam contra o domínio sérvio as nações reunidas em torno de Belgrado, as sociedades secretas. Outra consequência: aos olhos dessas sociedades secretas, o inimigo é o rei Alexandre I.
A 20 anos de distância, os objectivos a alcançar para estas sociedades secretas são muito diferentes dos da Mão Negra.
Por volta de 1910, para a Mão Negra, o inimigo era o sistema austríaco, o qual era preciso destruir. Uma fórmula bastante vaga, em que a vítima escolhida - o arquiduque Francisco-Fernando - fora designado por uma razão ocasional: uma inoportuna visita a Sarajevo. Passaram-se 20 anos. Os homens que vão constituir as primeiras malhas das sociedades secretas - na Macedónia é a Orim, na Croácia é a Ustacha - têm objectivos mais precisos: fazer triunfar os nacionalismos locais suprimindo um ditador odiado: o rei Alexandre. Com este fim, apoiam-se em cumplicidades exteriores: a Orim, nos búlgaros; a Ustacha, no governo de Mussolini, que sonha em recuperar as costas dálmatas e a quem a agitação provocada pela Ustacha vai - pelo menos assim o julga - ajudar nos seus desígnios.
Após o assassínio de Raditch, o Dr. Ante Pavelitch, advogado de Zagreb, funda a organização secreta revolucionária nacionalista da Ustacha, que uma palavra que significa os rebeldes, os insurrectos. Pavelitch é, desde há muito, adversário da ideia jugoslava. Em 1918, combateu a união dos sérvios e dos croatas e foi uma das personalidades dirigentes do Sokol croata, que, como a organização so mesmo nome na Boémia e na Morávia, não era senão um movimento nacionalista de tendência eslavófila.
Além da Ustacha, Pavelitch organiza a Guarda civil croata, que se esforça sobretudo por chamar a si a juventude das escolas primárias e superiores. Esta Guarda desempenha um papel importante no momento da instauração do Estado croata.
Pouco a pouco, vão-se encaixando nos seus lugares os elementos dispersos de uma encenação que terá por desenlace uma dupla tragédia: a do rei Alexandre, e em breve a da Jugoslávia.
De um lado, a politica do rei. Consiste em reprimir, numa nação pouco segurado seu destino, todo e qualquer movimento separatista, pois tais movimentos são a seus olhos prejudiciais à coesão do conjunto. A severidade da repressão exclui qualquer método persuasivo. Em réplica, aquilo a que poderíamos chamar o espírito local, só pode subsistir combatendo o elemento conquistador, pois na opinião dos croatas, e na de numerosos macedónios, a Sérvia faz figura de conquistadora e eles mesmos de povos conquistados. Alexandre, ajudado pelo exército e pela policia sérvia, ataca violentamente este espírito local, e que está decidido a destruir.
A táctica que lhe parece melhor é condenar-lhes o folclore e impor a língua sérvia, com exclusão de qualquer outra. Tal como os alemães após a vitória de 1870, proibiram na Alcásia-Lorena as canções francesas, assim os sérvios perseguem e punem os macedónios que alimentam a sua fidelidade nacional com o emprego do seu dialecto, com os seus cantos, com a leitura de livros e jornais estrangeiros.
Do outro lado, na Macedónia, a Orim, que se tinha erguido contra o turco, desperta contra o novo senhor, que se mostra tão tirânico como o primeiro. Age através do terrorismo que vai semear em casa do seu suserano, atravessando-lhe as fronteiras, indo incendiar as suas colheitas, os seus edifícios públicos, as suas casas.
Entre os 2 milhões de macedónios espalhados entre os nacionais dos vários países balcânicos, a maior parte encontra-se radicada na Bulgária, e a Orim mantém abertamente células em Sófia, capital do pais.
Terceiro oponente do tríptico, por fim, a Ustacha na Croácia. Os objectivos desta sociedade secreta e dos seus membros, os ustachis, são claros: independência da Croácia, em nome do direito que assiste aos povos de disporem de si mesmos.
Ao retirarem à Áustria uma parte do seu território para o acrescentarem à Sérvia e à Eslovénia, formando a Jugoslávia, os aliados julgaram constituir no centro da Europa um reino sólido, podendo servir de tampão entre eles e as ambições germânicas. Esta união só poderia formar uma unidade se a administração do pais se encontrasse igualmente dividida entre os habitantes das três regiões. Era não contar com as pretensões em parte justificadas da Sérvia. Fora a que mais sofrera, suportara um calvário de etapas extremamente dolorosas durante a guerra, e parecia-lhe justo, assim como aos seus aliados, ser favorecida na partilha das funções e das responsabilidades governamentais.
Impôs à confederação a sua capital e o seu rei. Uma fortuna nova e inesperada tornou-a orgulhosa. Em suma, esses países que tinham sido incorporados na Sérvia eram pedaços de uma Áustria vencida e a justa recompensa do vencedor. Mas os interessados não o entendiam assim. Além disso, estavam irritados por terem de suportar uma dependência que consideravam humilhante. Estimavam-se mais civilizados do que essa Sérvia, durante muito temo considerada - erradamente ou com razão - possuidora de uma cultura rudimentar.  Belgrado, antes de 1914, não passava de um burgo, enquanto Zagreb, capital da Croácia, oferecia a graça de uma cidade policiada e habitada por uma população tranquila.
Após o assassinato de Raditch, enquanto a ditadura amordaçava a Constituição, a revolta ganha corpo. Ante Pavelitch, antigo deputado do partido federalista, torna-se a alma dessa mesma revolta. Em seu redor agrupam-se adeptos fervorosos, ardentes e resolutos.
A partir de então, organiza-se um encadeamento perfeitamente lógico. A 20 de abril de 1929, primeira atitude de Pavelitch: procurar os chefes da Orim. O agrupamento terrorista anti-jugoslavo, que se afirma ser a organização revolucionária da Macedónia, é constituído por uma mistura complexa de idealistas, de proscritos, de guerrilheiros búlgaros, de atiradores profissionais. Desde há anos que, perseguida pelos sérvios, a Orim comete atentado atrás de atentado, perpetra assassínio atrás de assassínio por toda a Sérvia, mas mais particularmente no Sul. O seu objectivo sempre foi considerar caduco o tratado assinado no fim da primeira guerra mundial, porque a seus olhos os antigos territórios turcos libertados pelos Sérvios em 1913 e 1918 deveriam regressar à Bulgária.
Na Croácia, Pavelitch agrupa todos os que pretendem sabotar o Estado jugoslavo. Entre eles, oficiais que durante a guerra serviram nas fileiras austríacas e que são agora afastados do exército jugoslavo.
A maior parte destes oficiais é obrigada a procurar refúgio na Áustria a partir do momento em que, a 6 de janeiro de 1929, Alexandre I ordena a constituição de um tribunal especial para a protecção do estado contra as actividades subversivas dos separatistas e dos terroristas.
Os actores estão nos seus lugares: Alexandre e a sua polícia contra Pavelitch e os seus ustachis croatas, e a Orim dos macedónios.
Pavelitch era, em Zagreb, um advogado comercial no sentido mais estreito do termo. Durante os anos que precederam a ditadura, o seu cartório começara a vacilar. Eram conhecidas as suas relações com os húngaros e passava por ser um partidário disfarçado dos Habsburgos, suspeito aos olhos dos próprios croatas. Não havia Stefan Raditch chamado a atenção dos país, para aquele que considerava ser um vil intriguista?
Costumava dizer dos croatas:
"Sempre estiveram na oposição e é de temer que o estejam eternamente. Independentes, arranjarão ainda maneira de fazer oposição contra si mesmos. É um temperamento que se torna necessário organizar."
Recrutar e organizar! Pavelitch é mestre em ambos os campos. Morto Raditch, assassinado, os mais fanáticos encontram-se reunidos em torno do advogado de Zagreb. A Ustacha faz recrutamento no interior da Croácia, entre os intelectuais, os estudantes e uma parte do jovem clero. Muitos dos seus membros militam no partido camponês de Raditch. A morte deste empurrou-os para a Ustacha, que faz circular os princípios base do seu primeiro estatuto fundamental: criar um grupo de choque, um grupo de escol, que considere normal ser um dia chamado a dirigir a nação croata. Para tanto, um só meio: assassinar o rei Alexandre I, da Jugoslávia.
Enquanto esperam que a organização ganhe corpo e se consigam fundos - o que, não tardaremos a vê-lo, fará eclodir os estatutos fundamentais da Ustacha, do nacionalismo croata para o fascismo e depois para o nazismo - os chefes ustachis deixam na Croácia os seus agentes mais fanáticos. Têm como missão prepara a acção terrorista.
A 22 de março de 1929, três meses após ser fundada, a Ustacha revela a sua existência ao cometer o primeiro crime: Pospischil e Batich matam Tony Schiegel, director do jornal Novosti, de Zgreb, que era partidário da unificação com a Sérvia.
Durante esse ano, 1929, registam-se três outros atentados. Pavelitch necessita, para formar os seus terroristas, de verdadeiros assassinos profissionais. Condenados à morte à revelia, na Jugoslávia, Pavelitch e os principias chefes da Ustacha, Pertich e Yelitch, fogem de Zagreb, onde a polícia sérvia está prestes a prendê-los. Em Sófia, Pavelitch assina um acordo com  Mihailoff, chefe da Orim macedónia, que lhe fornecerá assassinos a soldo. Na Hungria, consegue os favores do regente, Horthy. Se é obrigado a fugir da Áustria e da Alemanha, onde é considerado indesejável, encontra o refúgio que lhe convém na Itália. Na opinião de Mussolini, utilizar os ustachis só pode abalar essa guerra, a à qual se deu demasiado, esquecendo as promessas secretamente feitas aos italianos.
Mussolini, diz-se, forneceu 25 milhões de liras aos ustachis. Muito embora seja difícil julgar a importância exacta da ajuda financeira concedida por Roma, é em todo o caso certo que, sem a cumplicidade de Mussolini, jamais a Ustacha teria podido desenvolver-se como desenvolveu.
A Itália fascista torna-se o principal centro da Ustacha, enquanto Yelitch, na América do Sul, e Tchulich, na Bélgica - os agentes de Pavelitch - recrutam novos adeptos que são enviados para campos de treino. Estes campos pululam na Itália: Borgotaro, Bovegna, perto do lago Isera, Udine, Zara, na costa dálmata, e vários outros. De golpe, a Ustacha torna-se uma organização terrorista de ramificações internacionais.
Pavelitch instala escritórios de propaganda e de recrutamento em Trieste, Fiume, Udine e Zara. É em Zara que os ustachis organizam, em outubro de 1932, uma incursão nas montanhas da Dalmácia para tentar sublevar os camponeses, acção que deveria permitir a Mussolini intervir para restabelecer a ordem.
Em Genebra, a Ustacha edita um boletim, Croacia Press. Em Viena é organizado um serviço de informações sobre a Jugoslávia, destinados particularmente aos jornais italianos, húngaros, búlgaros e austríacos. São igualmente enviados telegramas para a América e o boletim é distribuído a vários correspondentes de jornais estrangeiros em Viena. Explica-se hoje porque motivo tantas falsas notícias sobre a Jugoslávia e vindas de Viena foram na época postas em circulação.
Relações complexas, estas dos fascistas com a Ustacha. Para Mussolini, trata-se de utilizar Pavelitch, um vez que lhe paga. E isso, aos olhos de Roma, é separar a Croácia da Jugoslávia. Que lá rebente uma revolução, e ei-la independente (sob o protectorado fascista, é evidente) e de um mesmo golpe a Dalmácia regressa às mãos da Itália.
No decurso de um almoço oferecido em sua honra em Fiume, a 13 de setembro de 1932, Pavelitch aceita este negócio. Não pode sem dúvida fazer outra coisa, ante os sacrifícios consentidos pelos seus "benfeitores italianos" ; mas a ideia de devolver à Itália importantes territórios da costa dálmata continua a ser um delicado ponto de controvérsia entre Roma e a Ustacha.
Entretanto, Pavelitch organiza os seus grupos terroristas em bases italianas. Não tarda que uma brigada dos serviços de informações italianos seja posta à disposição dos ustachis. O seu chefe, o Dr. Conti, recebeu de Mussolini a missão de velar por Pavelitch - mas também de vigiá-lo - fornecer aos ustachis armas e papeis de identificação falsos, e ainda os materiais necessários ao fabrico de dinheiro falso.
Quando centenas de milhares de dinares falsos começaram a circular, tanto em Belgrado como em Zagreb, a policia jugoslava nem por um instante suspeita que a sua procedência é do campo italiano de Borgotaro.
Pavelitch, chefe supremo da Ustacha, faz então um jogo múltiplo.
Com os italianos, que o ajudam fortemente, é fascista. Preconiza de resto um fascismo mussoliano como forma de governo e vê num Estado corporativo o remédio para a situação económica e social do pós-guerra.
É-lhe necessária a intervenção de Roma para conseguir da Hungria os favores do regente Horthy. E não são pequenos favores, pois trata-se de criar, com a ajuda de velhos oficiais húngaros sob o comando de Gustavo Percec, um centro de recrutamento ustachi a poucos quilómetros da fronteira jugoslava, na quinta de Yanka Puszta (onde será recrutado Gueorguiev, um dos assassinos do rei Alexandre).
Em 1929, para conseguir os seus fins, Pavelitch, como vimos, concluiu um acordo com a Orim.
No entanto, à medida que aumenta a influência hitlariana na Alemanha, a Ustacha muda de rumo e pende nitidamente para o nacional-socialismo. Quando Hitler sobe ao poder, Pavelitch dirige-se a Berlim e publica pouco depois um manifesto de concepção muito "nazi", que é distribuído aos membros da sua organização. Neste manifesto, a Ustacha indica que "pretende lutar por todos os meios contra a Jugoslávia, assim como todos os comunistas e o derrotismo marxista sob todas as suas formas".
A Ustacha adopta pura e simplesmente o programa de nacional-socialismo alemão, Os Ustachis, como os hitlarianos, pretendem derrubar o capitalismo - no qual não pensaram sequer até então, provavelmente em razão da pobreza do pais - e exterminar o marxismo. A tendência anti-semita do movimento acentua-se.
O jornal de Pavelitch, Nezavisna Hrvatska, ("Estado Croata Independente"), publica um artigo que contém o essencial da doutrina ustachi sobre o problema da guerra e da paz:
"O pacifismo, pouco perigoso na aparência, é na realidade uma corrente de que o estrangeiro se serve para conservar um povo em estado de escravidão, para enfraquecê-lo, envenená-lo e matá-lo gradualmente. O pacifismo amolece o espírito e a alma dos indivíduos e dos povos, e mata a vontade natural, o amor pela vida e pelo trabalho. O pacifismo é uma das mais vis taras do homem."
De início, a única intenção de Pavelitch é atrair a atenção da opinião pública mundial para o problema croata, através de actos de sabotagem e de terrorismo preparados do estrangeiro. Esta táctica conhece um certo êxito: grupos de sabotadores e de terroristas formados nos campos da Ustacha, na Hungria e na Itália, praticam toda uma série de atentados contra os caminhos de ferro e outros serviços públicos jugoslavos. Os atentados não podem ser passados em silencio e despertam a inquietação geral.
Não tarda que comece a pensar somente num atentado contra a pessoa do rei Alexandre. Os preparativos deste atentado exigem meses. Tem de ser adiado por várias vezes. Finalmente, decide-se aproveitar o momento em que Alexandre irá a França, em visita oficial. Mas, no último instante, chega-se à conclusão de que a Ustacha não dispõe de homens de mão capazes de um êxito certo num tal atentado. É por isso que Pavelitch se dirige à Orim, para que esta lhe empreste especialistas. A Ustacha organiza pois o assassínio graças a homens que lhe são emprestados: alguns partidários vêm do campo de instrução de Yanka Puszta, muito perto da fronteira jugoslava.
Quatro turistas chegam a França, no início de outubro de 1934, sob a a direcção de um adjunto de Pavelitch, um croata chamado Kvaternik. Além do macedónio Vlada Gueorguiev, três croatas fazem parte da equipa: Zvonimir Popsipil, Raitch e Krajl. Vão munidos de falsos passaportes checoslovacos e não têm falta de dinheiro. As armas serão fornecidas mais tarde. De momento, visitam a França.
Vindos de Zurique e de Lausana entram, na França de barco, pelo lago Léman. A partir daí, chegam tranquilamente a Paris. Todavia, prudentes, e receando os controles a que a Polícia procede na expectativa da visita real, fazem uma paragem em Fontainebleau antes de se dirigirem à capital, onde o primeiro encontro tem lugar num cinema dos Boulevards. É aí que Kvaternik vai procura-los, na escuridão, no decurso da projecção do filme. Organizador muito hábil, instala dois dos seus companheiros no Palais d'Orsay, dois outros no hotel Regina, e ele próprio passa a noite no hotel Bellevue.
Na manhã do dia seguinte, Kvaternik parte para a Provença com Krajl e Gueorguiev, enquanto os outros dois assassinos vão a Versalhes, onde devem também preparar o terreno.  Tudo foi previsto, para que, se por ventura a operação de Marselha falhar, um outro atentado seja imediatamente perpetrado. Os conjurados conhecem perfeitamente o itinerário do cortejo real. A imprensa francesa forneceu-lhes todos os detalhes do percurso. Durante dois dias estudam, prontos a, em caso de fracasso dos seus camaradas de Marselha, pegarem no testemunho. 
A caminho de Marselha, sempre prudentes, Kvaternik, Krajl e Gueorguiev detém-se em Avignon e trocam o comboio pela estrada. Chegam a Aix de carro, no mesmo dia. Instalam-se no hotel Moderno e. durante 48 horas, nos dias 7 e 8 de outubro, preparam terreno para a acção de Marselha. Estudam os pontos quentes do itinerário real e consideram demoradamente as informações que lhes são discretamente comunicadas, e segundo as quais só a polícia garantirá a segurança do cortejo. Os papeis são repartidos: Gueorguiev será o primeiro a atacar, para cobrir a retirada do companheiro após o atentado. Krajl lançará uma bomba e várias granadas. De facto, esta segunda fase da operação não se desenrolou como previsto: tendo em conta a confusão que se seguiu ao atentado, pode imaginar-se o pânico que se teria apoderado da imensa multidão se Krajl tivesse intervido por sua vez.
Na noite de 8 de outubro, um misterioso Pierre e uma mulher loura da qual não foi possível descobrir a identidade e que a Polícia não conseguiu encontrar, juntam-se em Aix aos três conjurados. Entregam a Gueorguiev e a  Krajl duas pistolas para cada um e abundância de munições. Os ustachis não tardam a encontrar um esconderijo, dissimulando as armas num dos colchões que não voltarão a utilizar, e onde o pequeno arsenal virá a ser encontrado alguns dias mais tarde.
Assim equipados, Gueorguiev e Krajl partem de carro de Aix para Marselha, na manhã do dia 9. Misturam-se à multidão e colocam-se nos postos que lhes foram previamente indicados. Kvaternik, prudentemente, já partiu para Montreux, de onde apreciará o novo impulso a dar eventualmente à acção dos ustachis, segundo o curso dos acontecimentos.
Um pormenor é fundamental na preparação dos atentados: será só a polícia, e não a policia e o exército, a garantir na França a protecção ao monarca. Os ustachis sabem-no.
Ora, tanto para os serviços de segurança franceses e jugoslavos, como para a policia marselhesa, os avisos não faltaram. A polícia sabe com o que contar no que respeita à virulência de certos croatas e à audácia dos ustachis. Os serviços de segurança tiveram nas mãos uma série de artigos publicados no estrangeiro pelo jornal do movimento ustachi, Nezavisna Hrvatska, onde se podia ler, dois meses antes: 
"O senhor Barthou, o rei Alexandre Karageorgevitch, o senhor Benès e Titulesco, fazem muito mal em pensar que podem brincar à vontade com os outros povos. O destino não tardará em convencê-los disso... Condenamos à morte o rei Alexandre Karageorgevitch e todo o governo jugoslavo. Esta sentença deve ser executada o mais rapidamente possível..."
Na Jugoslávia, em 1934, a situação interna é precária. O reino S.C.E. (sérvio, croata e esloveno), ao qual Alexandre I deu, em 1929, a denominação de Jugoslávia, está no centro de conflitos latentes. Hostilizado pelos húngaros, pelos búlgaros e pelos italianos, é ao mesmo tempo minado do interior pelos terroristas croatas.
Enquanto Alexandre I se arvora em campeão de uma Federação Balcânica, o francês Louis Barthou esforça-se por restabelecer o equilíbrio politico e diplomático nos Balcãs. Hitler acaba de subir ao poder e Dollfuss, chanceler da Áustria há dois anos é assassinado em Viena; a guerra dos nervos segue o seu curso entre Roma e Belgrado; os ustachis multiplicam os atentados. Nesta conjuntura, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros provoca a viagem de Alexandre I à França, a quem acaba de visitar em Belgrado. É precisamente a época em que o rei consegue importantes vitórias diplomáticas, menos notáveis na Roménia, onde reina o seu primo, o rei Carol, do que na Grécia, na Turquia, junto de Kemal Ataturk, e sobretudo em Sófia, onde foi selada, em setembro de 1934, a reconciliação com o rei Boris e com a opinião pública búlgara. 
Parte pois confiante para França, a 7 de outubro. A viagem faz-se por mar. Alexandre, não atravessando qualquer território estrangeiro, deseja afirmar a posição de potência marítima da Jugoslávia e confirmar através desta indicação da sua implantação geográfica no Adriático a sua influência politica na perturbada região. 
Faz um tempo assustador na enseada de Zalenika, onde está ancorado o navio-almirante da frota jugoslava. O Adriático mostra-se muito agitado: as previsões são más. Alexandre convence a rainha Maria, que deveria acompanhá-lo, a desistir da viagem por mar. Dirigir-se-á a França utilizando o Expresso-Oriente. O rei juntar-se-á a ela em Dijon, de onde seguirão para Paris.
A rainha manifesta a sua preocupação. Recorda-se do primeiro drama que partilharam, em 1913, por altura do seu casamento, marcado já por um atentado falhado. Desde há 5 anos, sobretudo, as agressões multiplicaram-se por todo o pais. Ainda muito recentemente, em julho, aquando de uma visita oficiala Zagreb, os soberanos escaparam a um atentado à bomba. 
A bordo, durante dois dias e com o mar muito mau, o rei trabalha com os seus colaboradores nos problemas que estarão na ordem do dia. Com a proximidade das águas territoriais francesas, o tempo melhora. Do cabo Bonifácio a Marselha, o navio real é escoltado por vasos da marinha de guerra francesa: o Colbert, hasteando o pavilhão do ministro da Marinha, o Duquesne, 4 torpedeiros, 3 contratorpedeiros, 12 submarinos. O rei almoça a bordo e um pouco mais tarde recebe o senhor Pietri, ministro francês da Marinha.
Às 16 horas e 2 minutos, Alexandre I, que envergou o uniforme de gala de almirante, com o peito atravessado pelo colar da Legião de Honra, ostentando a Cruz de Guerra e a Medalha de Valor Militar que lhe foram entregues em 1917 na frente de Salónica, é recebido em solo francês por Louis Barthou. O calor do encontro entre o ministro francês dos Negócios Estrangeiros e o rei diz bem da amizade recíproca que une os dois homens. No entanto, os oficiais distinguem, na atitude do rei, uma reserva crispada e alguns sinais de nervosismo.
Uma testemunha, o jornalista René Barotte, enviado especial do Paris-Soir, que cobriu a viagem real, recorda o carácter inquietante do ambiente marselhês, neste 9 de outubro.   
"Sentia-se passar sobre o porto e sobre a multidão um sopro de mau agouro. Reinava uma grande desordem e tornou-se evidente que o serviço de segurança, montado com excessiva parcimónia de meios, não seria capaz de conter um publico mais entusiasmado, ou reter um agressor mais audacioso... Pairava electricidade no ar. O rei parecia pouco à vontade, a despeito do ambiente muito cordial que presidia àquele seu primeiro contacto com as individualidades francesas."
Com Barthou à esquerda, e, na banqueta à sua frente, o general Georges, membro do Conselho Superior da Guerra, que conhece de longa data e que o acompanha durante toda a estadia em França, o rei toma lugar no Délage descoberto que vai rolar a uma velocidade de 8 km por hora através da multidão, sem protecção próxima. A primeira etapa marcada ao cortejo real é o monumento aos mortos do Exército do Oriente: assim o decidiu Alexandre I, quando, por motivos de segurança, lhe propuseram a entrada em França por Toulon. O rei quer deste modo testemunhar, no início da sua visita, a sua gratidão às tropas que combateram na frente dos Balcãs ao lado dos soldados sérvios que comandou durante a grande guerra.
- Voltando ao porto - conta René Barotte - retomei o meu posto à janela...E quando o cortejo se aproximou da Canebière, foi o drama.. Cerca de 20 tiros de revólver foram disparados contra ele, atingindo-o. Vários soldados foram feridos. Um dos assassinos foi abatido...
O assassino agiu tão rapidamente que nenhuma intervenção teria sido possível. As infelizes condições em que fora formado o cortejo comportaram em si mesmas uma multiplicidade de riscos. Apesar de avisado dos perigos corridos pelo soberano, o controlador geral da Sûreté, Sisteron, responsável pela organização da viagem, não quis, alguns dias antes, admitir-lhes o fundamento. E assim rejeitou a possibilidade de fazer enquadrar a viatura real por ciclistas ou motociclistas da polícia, desejando que o carro fosse visível 100 metros à frente e 50 metros atrás. O elemento de protecção mais aproximado era na altura o coronel da Guarda Republicana, Piolet, que cavalgava 10 metros à frente do e só pode intervir demasiado tarde, abatendo o agressor a golpes de sabre.
O rei e o ministro francês foram mortalmente atingidos logo aos primeiros tiros. O general Georges foi gravemente atingido. O assassino, no entanto, continua a disparar contra a multidão, ferindo mortalmente 2 mulheres. Várias outras pessoas são mais ou menos gravemente atingidas. O pânico é geral. A multidão invade o asfalto, onde o motorista do Délage, Paul Fronsac, tenta em vão acelerar e conduzir o rei ensanguentado, pela Rua Saint Ferreol, à Prefeitura, onde seria possível tentar salvá-lo.
Era demasiado tarde. Das três balas que atingiram Alexandre, uma atravessou a vesícula, outra o pulmão direito, e a terceira o braço... 
Para Pavelitch e os seus ustachis, o primeiro objectivo tinha sido alcançado: com o duplo assassínio, produzia-se o choque esperado. A opinião pública mundial, assim como a imprensa de todos os países, debruçaram-se sobre o problema jugoslavo. Nos países ocidentais, o crédito politico e económico da Jugoslávia desceu so seu ponto mais baixo: começou-se a questionar se o Estado jugoslavo, tal com o estava, poderia manter-se.
Os esforços da polícia no sentido de descobrir os que tinham comandado o assassínio falharam: Mussolini recusou-se a extraditar Pavelitch.
Se os campos da Ustacha, na Itália e na Hungria, tiveram de ser dissolvidos, se, na Itália, os seus ocupantes que não conseguiram fugir a tempo foram internados nas ilhas Lipari, os chefes da organização dispersaram-se pelos diferentes países da Europa, a fim de prosseguirem a sua propaganda.



Fonte: História do Ocultismo, Seitas e Sociedades Secretas, Bernard Michal, Jean Renald