8 de jul. de 2011

Corno de África (Nordeste Africano) – de seca em seca, cada vez mais agravadas…

Todos os dias mais de mil Somalis passam através da fronteira do Quénia, em direcção a Dadaab, onde já se encontram mais de 367 mil pessoas, sendo considerado agora o maior assentamento de refugiados no mundo. Eles chegam  desnutridos e desidratadosdepois de uma semana a pé gratos por chegarem a um local onde poderão obter comida e água. O êxodo não é o único indicador de que uma grande crise de alimentos se está a formar no Corno de África, após o ano mais seco num período de 60 anos. Na Somália, o preço do sorgo vermelho subiu 240% no último ano, e um saco de 90 kg de milho é trocado agora por cinco cabras em vez de uma. As taxas de desnutrição de refugiados que chegam à Etiópia são de 23% – seis vezes acima da taxa considerada limite para níveis de emergência. Estes números levaram as agências de ajuda humanitária a lançar vários apelos esta semana, de forma a poder lidar com a emergência humanitária no Nordeste Africano e que está a afectar até cerca de 10 milhões de pessoas. A Grã-Bretanha anunciou que iria doar 38 mil libras em ajudas alimentares para a Etiópia. Seria bom que outros doadores doassem outro tanto, e mesmo essa soma só conseguirá financiar a operação do programa alimentar mundial nesse país até Setembro.
Mas o problema não está em avaliar apenas a amplitude da crise actual, que irá certamente aumentar. É preciso levar em conta o facto de que as secas nesta região têm-se tornado uma ocorrência quase anual. Houve cinco nos últimos sete anos e, em termos do número de pessoas afectadas, esta poderá não ser a pior. A maior crise chegou ao auge em 2009, quando 22 milhões de pessoas foram afectadas.
Será este um caso para todos encolherem os ombros e colocarem as culpas nas alterações climáticas? Não, essas são algumas das áreas menos desenvolvidas de África. E é claro, a Somália tem sido abalada por décadas de intervenção e insurreição, e a seca tem vindo a aumentar nas áreas controladas pelo militante islâmico al-Shabab, que decretou a proibição de obter a ajuda alimentar das agências da ONU. Mas o maior número de pessoas afectadas encontra-se no Nordeste do Quénia, onde a falta de estradas, o custo crescente dos transportes e a falta de acessos aos mercados faz com que os pastores e os seus animais  fiquem de mês para mês cada vez mais vulneráveis. Diversos relatórios de diferentes organizações não governamentais apontam para algumas medidas simples que poderiam fazer a diferença ao nível da resistência – como colocar reservatórios de recolha de águas em edifícios, deixar algumas pastagens em descanso, planear a configuração e fazer a manutenção de poços – de maneira a que os profissionais de saúde consigam diagnosticar mais eficazmente as doenças e possam providenciar tratamento para o gado. Existem ainda problemas estruturais mais graves, como o bloqueio das rotas de migração devido ao facto da terra ter sido comprada para o desenvolvimento de agronegócios ou turismo.
Nesta situação actual, as agências de ajuda correm de uma seca para outra. E o facto da falta de financiamentos ser de cerca de 42% para a Somália, e de 67% para a Etiópia e para o Quénia, diz muito sobre a mentalidade dos doadores que se sentem motivados para agir somente quando já é tarde demais.


link para a notícia original
http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2011/jul/07/horn-of-africa-drought