Ah, Falemos da Brisa
Eu dizia:
"Nenhuma brisa é triste"
e procurava água, lábios,
um corpo
onde a solidão fosse impossível.
Mas quem sabe dessa música
cativa nos meus dedos?
E depois, como guardar um beijo,
mar doirado ou sombra
desolada?
Recordava um rio,
álamos,
o sabor nupcial da chuva,
tropeçava em lágrimas e soluços
e lágrimas, e procurava.
Como quem se despe
para amar a madrugada nas areias,
eu dizia: " Nenhuma brisa é triste,
triste", e procurava.
E procurava.
Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
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Danny Richardson The Ripple Effect of Life & Death |