O
relato mais completo sobre os Istari foi escrito, ao que parece, em 1954. Apresento-o aqui na íntegra e subsequentemente referir-me-ei a ele como “o ensaio sobre os Istari”. Mago é
uma tradução do quenya istar (sindarin ithron): um dos membros de uma “ordem”
(como eles a chamavam), que alegava possuir e demonstrava eminente conhecimento
da
história e natureza do Mundo. A tradução (apesar de adequada, por
relacionar-se com “wise” 25 e outras antigas palavras de conhecimento, de modo
semelhante a istar em quenya) talvez não seja feliz, visto que a Heren Istarion
ou “Ordem dos Magos” era bem diversa dos “magos” e “mágicos” de lendas
posteriores. Eles pertenciam unicamente à Terceira Era e depois partiram, e
ninguém, excepto talvez Elrond, Círdan e Galadriel, descobriu de que espécie
eram ou de onde vieram. Entre os homens (inicialmente), aqueles que tratavam
com eles supunham que eram homens que haviam adquirido tradições e artes
através de estudos longos e secretos. Apareceram pela primeira vez na
Terra-média por volta do ano 1000 da Terceira Era, mas por muito tempo andaram
com aparência simples, como de homens já velhos, mas sãos de corpo, viajantes e
Caminhantes, adquirindo conhecimento da Terra-média e de todos os que ali
habitavam, porém sem revelar a ninguém seus poderes e propósitos. Naquela
época, os homens raramente os viam e pouca atenção lhes davam. No entanto, à
medida que a sombra de Sauron começou a crescer e tomar forma outra vez, tornaram-se
mais activos e buscavam sempre opor-se ao avanço da Sombra, bem como a levar os
elfos e os homens a se prevenirem contra seu perigo. Então espalhou-se por toda
parte, entre os homens, o rumor de suas idas e vindas, bem como de sua
interferência em muitos assuntos; e os homens perceberam que eles não morriam,
mas permaneciam iguais (a não ser pelo fato de que envelheciam um pouco no
aspecto), enquanto os pais e os filhos dos homens se acabavam. Os homens,
portanto, começaram a temê-los, mesmo quando os amavam, e consideravam que eles
fossem da raça dos elfos (com os quais de fato muitas vezes se associavam).
Porém não o eram. Pois vinham do outro lado do Mar, desde o Extremo Oeste. Por
muito tempo, no entanto, isso só foi do conhecimento de Círdan, Guardião do
Terceiro Anel, mestre dos Portos Cinzentos, que viu seus desembarques nas
praias ocidentais. Eram emissários dos Senhores do Oeste, os Valar, que ainda
deliberavam sobre o governo da Terra-média e que, quando a sombra de Sauron
começou a se agitar novamente, empreenderam esse meio de lhe resistir. Pois.
com o consentimento de Eru, enviaram membros de sua própria elevada ordem,
porém vestidos de corpos como os dos homens, reais e não ilusórios, mas
sujeitos aos medos, às dores e à exaustão da terra,
capazes de sentirem fome e
sede, e de serem mortos; embora, por causa de sua nobreza de espírito, não
morressem, e só envelhecessem em consequência das preocupações e labutas de
muitos e muitos anos. E isso foi feito pelos Valar porque desejavam emendar os
erros de outrora, especialmente a tentativa de proteger e isolar os eldar pela
plena revelação de seu próprio poderio e glória. Agora, no entanto, seus
emissários estavam proibidos de se revelar em formas de majestade, ou de
procurar dominar as vontades dos homens ou dos elfos através da demonstração
aberta de poder; mas, vindos em formas débeis e humildes, tinham a incumbência
de aconselhar e persuadir os homens e os elfos para o bem, e procurar unir no
amor e na compreensão todos aqueles que Sauron, caso retornasse, tentaria
dominar e corromper. Dessa Ordem o número de membros é desconhecido; mas
daqueles que chegaram ao Norte da Terra-média, onde havia mais esperança (por
causa do remanescente dos dúnedain e dos eldar que lá habitavam), os principais
eram cinco. O primeiro a chegar tinha nobre semblante e porte, com cabelos
negros e uma bela voz, e trajava branco. Tinha grande habilidade nos trabalhos
das mãos, e era considerado por quase todos, mesmo pelos eldar, o chefe da
Ordem. Também havia outros: dois trajados de azul do mar, e um do castanho da
terra; e por último chegou um que parecia o menos importante, menos alto que os
demais, e de aspecto mais idoso, de cabelos grisalhos, trajado de cinza e
apoiado em um cajado. Mas Círdan, desde seu primeiro encontro nos Portos
Cinzentos, adivinhou nele
o maior e mais sábio espírito. Deu-lhe as boas-vindas
com reverência e entregou a seus cuidados o Terceiro Anel, Narya, o Vermelho, —
pois — disse ele — grandes labutas e perigos estão diante de você; e, para que
sua tarefa não demonstre ser demasiado grande e exaustiva, tome este Anel para
seu auxílio e conforto. Foi-me confiado apenas para ser mantido em segredo, e
aqui nas costas do oeste está ocioso; mas julgo que em dias que não tardarão
ele deverá estar em mãos mais nobres que as minhas, que poderão usá-lo para
acender a coragem em todos os corações; — e o Mensageiro Cinzento tomou o Anel,
e sempre o manteve em segredo. No entanto o Mensageiro Branco (que tinha
habilidade para descobrir todos os segredos) após certo tempo se deu conta
desse presente, e teve inveja. Foi esse o começo da malevolência oculta que
tinha em relação ao Cinzento, e que mais tarde se tornou manifesta. Ora, em
dias posteriores, o Mensageiro Branco tornou-se conhecido entre os elfos como
Curunír, o Homem Habilidoso, e Saruman nas línguas dos homens do norte; mas
isso foi depois que ele retornou de suas numerosas viagens, entrou no reino de
Gondor e lá morou. Dos Azuis pouco se conhecia no oeste, e não tinham nomes, excepto Ithryn Luin, “os Magos Azuis”; pois foram ao leste com Curunír, mas
jamais voltaram, e se permaneceram no leste, lá seguindo os propósitos para os
quais haviam sido enviados; ou pereceram; ou ainda, como afirmam alguns, foram
apanhados por Sauron e se tornaram seus servos, não se sabe agora. Mas nenhuma
dessas alternativas era impossível de acontecer; pois, por muito que isso possa
parecer estranho, os Istari, visto que trajavam corpos da Terra-média, podiam
afastar-se dos seus propósitos exactamente como os homens e os elfos, e fazer o
mal, esquecendo-se do bem na busca pelo poder de realizá-lo. Um trecho
separado, escrito na margem, sem dúvida encaixa-se aqui: Pois de facto diz-se
que, por possuírem corpos, os Istari necessitavam aprender de novo muitas
coisas, pela lenta experiência e, apesar de saberem de onde vinham, a lembrança
do Reino Abençoado era para eles uma visão de muito longe, pela qual (enquanto
permanecessem fiéis à sua missão) ansiavam intensamente. Assim, por suportarem
de livre vontade as angústias do exílio e as fraudes de Sauron, poderiam
corrigir os males daquele tempo. De fato, de todos os Istari apenas um
permaneceu fiel, e esse foi o último a chegar. Pois Radagast, o quarto,
apaixonou-se pelos muitos animais e aves que viviam na Terra-média, e abandonou
os elfos e os homens para passar seus dias entre as criaturas selvagens. Assim
obteve seu nome (que é do idioma de Númenor de outrora, e significa, dizem, “o
que cuida dos animais”). E Curunír 'Lân, Saruman, o Branco,
decaiu da sua
elevada missão, e, tornando-se orgulhoso, impaciente e apaixonado pelo poder,
buscou fazer sua própria vontade pela força, e desalojar Sauron; mas foi
apanhado por aquele espírito sinistro, mais poderoso que ele. Mas o último a chegar
era chamado entre os elfos de Mithrandir, o Peregrino Cinzento, pois não morava
em nenhum lugar e não reunia em torno de si nem riquezas nem seguidores, mas
andava sempre para lá e para cá nas Terras Ocidentais, de Gondor a Angmar, e de
Lindon a Lórien, fazendo-se amigo de toda a gente em tempos de necessidade. Era
cordial e sério seu espírito (e era reforçado pelo anel Narya), pois ele era o
Inimigo de Sauron, que opunha ao fogo que devora e destrói o fogo que anima, e
socorre na desesperança e no infortúnio. No entanto, sua alegria e sua ira
repentina estavam veladas em trajes da cor da cinza, de modo que apenas os que
o conheciam bem entreviam a chama que ardia no seu íntimo. Podia ser jovial
além de bondoso com os jovens e os simples; e ainda assim, às vezes,
dispunha-se rapidamente a falar com rispidez e a repreender a insensatez. Não
era orgulhoso porém, não buscava nem o poder nem o elogio, e assim, por toda
parte, era caro a todos aqueles que não eram eles próprios orgulhosos. Na
maioria das vezes viajava a pé, incansável, apoiado num cajado; e assim era
chamado entre os homens do norte de Gandalf, “o Elfo do Cajado”. Pois
consideravam (embora erradamente, como se disse) que pertencia à espécie dos
elfos, visto que às vezes fazia maravilhas entre eles, por apreciar em especial
a beleza do fogo. Realizava porém tais maravilhas principalmente para o
contentamento e o deleite, sem desejar que ninguém sentisse reverência por ele
ou seguisse seus conselhos por temor. Noutro lugar conta-se como, quando
Sauron voltou a se erguer, também ele se ergueu e parcialmente revelou seu
poder. E, tornando-se o principal autor da resistência contra Sauron, foi por
fim vitorioso; e, pela vigilância e labuta, conduziu tudo àquele fim que fora
pretendido pelos Valar sob o comando do Um que está acima deles. No entanto,
diz-se que sofreu imensamente ao acabar a tarefa para a qual viera, e foi
morto. E, tendo sido devolvido da morte, esteve então por um curto espaço de
tempo trajado de branco, antes de se transformar numa chama radiante (ainda
velada, excepto na necessidade extrema). E, quando tudo estava terminado e a
Sombra de Sauron tinha sido eliminada, partiu para sempre por sobre o Mar; ao
passo que Curunír foi derrubado e totalmente humilhado, e pereceu afinal pela
mão de um escravo oprimido; tendo seu espírito ido aonde quer que estivesse
condenado a ir, e à Terra-média, quer despido quer corporificado, jamais
voltou. No Senhor dos Anéis a única afirmativa geral sobre os Istari
encontra-se na nota introdutória do Conto dos Anos da Terceira Era no Apêndice
B: Quando cerca de mil anos haviam passado, e a primeira sombra cobriu a Grande
Floresta Verde, os Istari ou magos apareceram na Terra-média. Posteriormente
comentou-se que eles tinham vindo do
Extremo Oeste e eram mensageiros enviados
para fazer frente ao poder de Sauron, e para unir todos aqueles que tinham
vontade de resistir a ele; mas os magos estavam proibidos de enfrentar o poder
dele com o seu poder, ou de procurar dominar os elfos ou os homens usando de
força ou medo. Portanto vieram na forma de homens, embora nunca fossem jovens e
envelhecessem vagarosamente, e detinham muitos poderes na mente e nas mãos.
Revelavam seus verdadeiros nomes a poucos, mas usavam os nomes que lhes eram
dados. Os dois maiores dessa ordem (da qual se diz que era composta de cinco)
eram chamados pelos eldar de Curunír, “o Homem Habilidoso”, e Mithrandir, “o
Peregrino Cinzento”, mas os homens do norte chamavam-nos respectivamente de
Saruman e Gandalf. Curunír viajava frequentemente para o leste, mas por fim
passou a morar em Isengard. Mithrandir tinha uma amizade mais estreita com os
eldar, e vagava principalmente no oeste, nunca fixando uma residência
permanente. Segue-se um relato da custódia dos Três Anéis dos Elfos, no qual
consta que Círdan deu o Anel Vermelho a Gandalf quando este primeiro chegou aos
Portos Cinzentos vindo do outro lado do Mar (pois “Círdan enxergava mais longe
e mais fundo que qualquer outro na Terra-média”). Assim, o ensaio recém-mencionado
a respeito dos Istari conta muitas coisas sobre eles e sua origem que não
aparecem no Senhor dos Anéis (e também contém algumas observações incidentais
de grande interesse sobre os Valar, sua preocupação contínua com a Terra-média
e seu reconhecimento do antigo erro, que não podem ser discutidas aqui). O mais
notável é a descrição dos Istari como “membros de sua própria elevada ordem” (a
ordem dos Valar), bem como as afirmativas sobre sua corporificação física. Mas
também são dignas de nota a chegada dos Istari à Terra-média em épocas
diferentes; a percepção de Círdan de que Gandalf era o maior deles; o
conhecimento de Saruman de que Gandalf possuía o Anel Vermelho, e sua inveja; a
visão que temos de Radagast, como alguém que não permaneceu fiel à sua missão;
os outros dois “Magos Azuis”, sem nome, que foram com Saruman para o leste,
mas, ao contrário dele, jamais voltaram às Terras Ocidentais; o número de
membros da ordem dos Istari (que aqui se diz ser desconhecido, apesar de serem
cinco “os principais” dos que chegaram ao norte da Terra-média); a explicação
dos nomes Gandalf e Radagast; e a palavra sindarin ithron, plural ithryn. O
trecho acerca dos Istari em Dos Anéis de Poder (no Silmarillion, p. 382) é de
fato muito próximo da afirmativa no Apêndice B do Senhor dos Anéis, mencionada
acima, até mesmo nas palavras; mas inclui a seguinte frase, que concorda com o
ensaio sobre os Istari:
Curunír era o mais velho e o que chegara primeiro; e depois dele vieram Mithrandir e Radagast, bem como outros dos Istari que passaram para o leste da Terra-média e não entram nestas histórias. A maior parte dos demais escritos sobre os Istari (como grupo) infelizmente nada mais é que anotações muito rápidas, frequentemente ilegíveis. No entanto, é de extremo interesse um esboço breve e muito apressado de uma narrativa que fala de um conselho dos Valar, ao que parece convocado por Manwe (“e talvez tenha invocado Eru para aconselhá-los?”), no qual foi resolvido que enviariam três emissários à Terra-média. “Quem haveria de ir? Pois teriam de ser poderosos, pares de Sauron, mas teriam de renunciar ao poder e se trajar em carne para tratar com igualdade e conquistar a confiança dos elfos e dos homens. Mas isso os poria em risco, obscurecendo sua sabedoria e seu conhecimento, e confundindo-os com temores, preocupações e exaustões derivadas da carne”. Mas só dois se apresentaram: Curumo, que foi escolhido por Aule, e Alatar, que foi enviado por Orome. Então Manwe perguntou onde estava Olórin. E Olórin, que trajava cinzento e, por acabar de voltar de uma viagem, se sentara à beira do conselho, perguntou o que Manwe queria dele. Manwe respondeu que desejava que Olórin fosse como terceiro mensageiro à Terra-média (e está observado entre parênteses que 'Olórin amava os eldar que restavam, aparentemente para explicar a escolha de Manwe). Mas Olórin declarou que era demasiado fraco para tal tarefa e que temia Sauron. Então Manwe disse que essa era ainda mais razão para que ele fosse, e que ordenava a Olórin (seguem-se palavras ilegíveis que parecem conter a palavra “terceiro”). Mas a essas palavras Varda ergueu o olhar e disse: — Não como terceiro —; e Curumo lembrou-se disso. A nota termina com a afirmativa de que Curumo [Saruman] levou Aiwendil [Radagast] porque Yavanna lhe implorou que o fizesse, e que Alatar levou Paliando como amigo. Em outra página de anotações, claramente pertencente ao mesmo período, diz-se que “Curumo foi obrigado a levar Aiwendil para agradar a Yavanna, esposa de Aule”. Ali há também alguns esboços de tabelas que relacionam os nomes dos Istari com os nomes idos Valar: Olórin com Manwe e Varda, Curumo com Aule, Aiwendil com Yavanna, Alatar com Orome, e Paliando também com Orome (mas isso substitui a relação de Paliando com Mandos e Nienna). À luz da breve narrativa recém-mencionada, essas relações entre os Istari e os Valar significam claramente que cada Istar foi escolhido por um Vala por suas características inatas — talvez mesmo por serem membros do “povo” daquele Vala, no mesmo sentido do que se diz de Sauron no Valaquenta (O Silmarillion, p. 23), que “no início, ele pertencia aos Maiar de Aule e continuou poderoso na tradição daquele povo”. Assim, é muito notável que Curumo (Saruman) fosse escolhido por Aule. Não há vestígio de explicação do motivo pelo qual o evidente desejo de Yavanna, de que os Istari deveriam incluir alguém com um amor especial pelas coisas que ela fizera, só podia ser realizado pela imposição da companhia de Radagast a Saruman; enquanto a sugestão no ensaio
http://cabana-on.com/Ler/wp-content/uploads/2017/08/J.R.R.-Tolkien-Contos-Inacabados.pdf
Curunír era o mais velho e o que chegara primeiro; e depois dele vieram Mithrandir e Radagast, bem como outros dos Istari que passaram para o leste da Terra-média e não entram nestas histórias. A maior parte dos demais escritos sobre os Istari (como grupo) infelizmente nada mais é que anotações muito rápidas, frequentemente ilegíveis. No entanto, é de extremo interesse um esboço breve e muito apressado de uma narrativa que fala de um conselho dos Valar, ao que parece convocado por Manwe (“e talvez tenha invocado Eru para aconselhá-los?”), no qual foi resolvido que enviariam três emissários à Terra-média. “Quem haveria de ir? Pois teriam de ser poderosos, pares de Sauron, mas teriam de renunciar ao poder e se trajar em carne para tratar com igualdade e conquistar a confiança dos elfos e dos homens. Mas isso os poria em risco, obscurecendo sua sabedoria e seu conhecimento, e confundindo-os com temores, preocupações e exaustões derivadas da carne”. Mas só dois se apresentaram: Curumo, que foi escolhido por Aule, e Alatar, que foi enviado por Orome. Então Manwe perguntou onde estava Olórin. E Olórin, que trajava cinzento e, por acabar de voltar de uma viagem, se sentara à beira do conselho, perguntou o que Manwe queria dele. Manwe respondeu que desejava que Olórin fosse como terceiro mensageiro à Terra-média (e está observado entre parênteses que 'Olórin amava os eldar que restavam, aparentemente para explicar a escolha de Manwe). Mas Olórin declarou que era demasiado fraco para tal tarefa e que temia Sauron. Então Manwe disse que essa era ainda mais razão para que ele fosse, e que ordenava a Olórin (seguem-se palavras ilegíveis que parecem conter a palavra “terceiro”). Mas a essas palavras Varda ergueu o olhar e disse: — Não como terceiro —; e Curumo lembrou-se disso. A nota termina com a afirmativa de que Curumo [Saruman] levou Aiwendil [Radagast] porque Yavanna lhe implorou que o fizesse, e que Alatar levou Paliando como amigo. Em outra página de anotações, claramente pertencente ao mesmo período, diz-se que “Curumo foi obrigado a levar Aiwendil para agradar a Yavanna, esposa de Aule”. Ali há também alguns esboços de tabelas que relacionam os nomes dos Istari com os nomes idos Valar: Olórin com Manwe e Varda, Curumo com Aule, Aiwendil com Yavanna, Alatar com Orome, e Paliando também com Orome (mas isso substitui a relação de Paliando com Mandos e Nienna). À luz da breve narrativa recém-mencionada, essas relações entre os Istari e os Valar significam claramente que cada Istar foi escolhido por um Vala por suas características inatas — talvez mesmo por serem membros do “povo” daquele Vala, no mesmo sentido do que se diz de Sauron no Valaquenta (O Silmarillion, p. 23), que “no início, ele pertencia aos Maiar de Aule e continuou poderoso na tradição daquele povo”. Assim, é muito notável que Curumo (Saruman) fosse escolhido por Aule. Não há vestígio de explicação do motivo pelo qual o evidente desejo de Yavanna, de que os Istari deveriam incluir alguém com um amor especial pelas coisas que ela fizera, só podia ser realizado pela imposição da companhia de Radagast a Saruman; enquanto a sugestão no ensaio
sobre os Istari de que apaixonando-se pelas criaturas
selvagens da Terra-média, Radagast abandonou o propósito para o qual fora
enviado, talvez não esteja em perfeita harmonia com a ideia de que foi
especialmente escolhido por Yavanna. Ademais, tanto no ensaio sobre os Istari
quanto em Dos Anéis de Poder, Saruman chegou primeiro e sozinho. Por outro
lado, é possível ver uma sugestão da história da companhia indesejável de
Radagast no extremo desprezo que Saruman tinha por ele, conforme foi relatado
por Gandalf ao Conselho de Elrond. — “Radagast, o Castanho!”, riu Saruman, não
mais escondendo o desprezo que sentia. “Radagast, o Domador de Pássaros!
Radagast, o Simplório! Radagast, o Tolo! Mas pelo menos teve a capacidade de
desempenhar a função que lhe designei”. Ao passo que no ensaio sobre os Istari
consta que os dois que foram ao leste não tinham nomes, excepto Ithryn Luin, “os
Magos Azuis” (com o evidente significado de que não tinham nomes no oeste da
Terra-média), aqui eles são designados, como Alatar e Paliando, e estão
associados com Orome, embora não se dê nenhuma sugestão do motivo dessa
relação. Pode ser (apesar de se tratar da mais pura conjectura) que Orome,
dentre todos os Valar, tivesse o maior conhecimento das regiões remotas da Terra-média,
e que os Magos Azuis estivessem destinados a viajar nessas regiões e lá ficar.
Além do fato de que estas notas sobre a escolha dos Istari certamente são
posteriores à conclusão do Senhor dos Anéis, não consigo encontrar nenhuma
prova de sua relação, em termos de época de composição, com o ensaio sobre os
Istari. Não conheço nenhum outro escrito sobre os Istari. a não ser algumas
notas muito rudimentares e parcialmente impossíveis de interpretar, que
certamente são muito posteriores às dadas acima, e provavelmente datam de 1972:
Temos de presumir que eles [os Istari] eram todos Maiar, isto é, pessoas da
ordem “angelical”, mas não necessariamente da mesma classe. Os Maiar eram
“espíritos”, porém capazes de auto-encarnação, e podiam assumir formas
“humanóides” (especialmente élficas). Diz-se (por exemplo, o próprio Gandalf
afirma) que Saruman era o chefe dos Istari — isto é, mais elevado na estatura
valinoreana que os demais. Gandalf era evidentemente o próximo na ordem.
Radagast é apresentado como uma pessoa de muito menor poder e sabedoria. Dos
outros dois nada se diz em obras publicadas, excepto a referência aos Cinco
Magos na altercação entre Gandalf e Saruman [As Duas Torres, III X], Ora, esses
Maiar foram enviados pelos Valar em um momento crucial da história da
Terra-média para reforçar a resistência dos elfos do oeste, cujo poder
minguava, e dos homens incorruptos do oeste, em número muito menor que os do
leste e do sul. Pode-se ver que cada um deles era livre para fazer o que podia nessa
missão; que não eram comandados nem se esperava que agissem juntos como um
pequeno corpo central de poder e sabedoria; que cada um tinha poderes e
inclinações diferentes, e que foram escolhidos pelos Valar com essa intenção.
Outros escritos tratam exclusivamente de Gandalf (Olórin, Mithrandir). No verso
da página isolada que contém a narrativa da escolha dos Istari pelos Valar,
aparece a seguinte nota curiosíssima: Elendil e Gil-galad eram parceiros; mas
essa foi “a Última Aliança” entre elfos e homens. Na derrocada final de Sauron,
os elfos não estavam efectivamente envolvidos no ponto da ação. Legolas
provavelmente foi o que menos realizou dentre os Nove Andantes. Galadriel, a
maior dos eldar que sobreviviam na Terra-média, tinha sua principal potência na
sabedoria e na bondade, como diretora ou conselheira no combate, inconquistável
na resistência (em especial na mente e no espírito), mas incapaz de acção
punitiva. Na sua escala, tornara-se como Manwe com respeito à grande acção
total. Manwe, no entanto, mesmo após a Queda de Númenor e a destruição do mundo
antigo, mesmo na Terceira Era, quando o Reino Abençoado fora removido dos
“Círculos do Mundo”, ainda não era um mero observador. Foi claramente de
Valinor que vieram os emissários que eram chamados de Istari (ou Magos), e
entre eles Gandalf, que demonstrou ser o director e coordenador tanto do ataque
quanto da defesa. Quem era Gandalf? Diz-se que em dias posteriores (quando
outra vez se ergueu uma sombra do mal no Reino) muitos dos “Fiéis” daquele
tempo acreditavam que “'Gandalf” era a última aparição do próprio Manwe, antes
de seu retraimento final à torre de vigia de Taniquetil. (O fato de Gandalf ter
dito que seu nome “no Ocidente” fora Olórin era, de acordo com essa
crença, a adopção de um cognome, uma mera alcunha.) Eu (é claro) não conheço a verdade
neste caso; e, se a conhecesse, seria um erro ser mais explícito do que Gandalf
foi. Mas creio que não era assim. Manwe não descerá da Montanha antes da Dagor
Dagorath, e a chegada do Fim, quando Melkor retornará. Para vencer Morgoth, ele
enviou seu arauto Eonwe. Para derrotar Sauron, então, não mandaria algum
espírito menor (mas poderoso) do povo angélico, alguém coeso e igual, sem
dúvida, a Sauron nos seus primórdios, porém não mais? Olórin era seu nome. Mas
de Olórin nunca saberemos mais do que aquilo Saberás a ciência há muito secreta
Dos Cinco que saíram de solo distante? Um só voltou. Os outros não mais
Trilharão a Terra-média sob tutela dos homens Até Dagor Dagorath e o Destino chegar.
Como o conheces: o conselho oculto Dos Senhores do Oeste na terra de Aman?
Longas vias se foram que até lá levavam, E aos homens mortais Manwe não se
manifesta. Do Oeste-que-Era uma aragem o trouxe Ao ouvido do sono. em meio aos
silêncios Na sombra da noite, quando trazem notícias De terras esquecidas e
extintas eras Por mares de anos à mente minuciosa. Restam os que recorda o Rei
Mais Velho. Enxergou a Sauron como sutil ameaça [...] Aqui há muitas coisas que
dizem respeito à questão maior, da preocupação de Manwe e dos Valar com o
destino da Terra-média após a Queda de Númenor, e que devem escapar totalmente
ao âmbito deste livro. Depois das palavras “Mas de Olórin nunca saberemos mais
do que aquilo que ele revelou em Gandalf”, meu pai acrescentou mais tarde: excepto que Olórin é um nome alto-élfico, e portanto deve ter sido dado a ele em
Valinor pelos eldar, ou deve ser uma “tradução” com a intenção de ser
significativa a eles. Em qualquer um dos casos, qual era o significado do nome,
conferido ou adoptado? Olor é uma palavra frequentemente traduzida como “sonho”,
mas que não se refere aos “sonhos” humanos (em sua maioria), certamente não aos
sonhos do sono. Para os eldar, incluía o conteúdo vivido de sua memória, assim
como de sua imaginação: referia-se de fato à visão clara, na mente, de coisas
não fisicamente presentes na situação do corpo. Porém não somente a uma ideia,
mas a um pleno revestimento dela com forma e detalhe particulares. Uma nota
etimológica isolada explica o significado de modo semelhante: olo-s: visão,
“fantasia”: Nome élfico comum para “construção da mente” não realmente
(pré-)existente em Ea à parte da construção, mas capaz de ser tornada visível e
sensível pelos eldar, através da Arte (Karme). Olos normalmente se aplica a
construções belas que têm somente um objectivo artístico (isto é, não têm o objectivo do engano, ou de adquirir poder). São citadas palavras derivadas desta
raiz: quenya olos “sonho, visão”, plural olozi/olori; õla- (impessoal)
“sonhar”; olosta “sonhador”. É feita então uma referência a Olofantur, que era
o primitivo nome “verdadeiro” de Lórien, o Vala que era “mestre das
visões e
dos sonhos”, antes de ser alterado para Irmo no Silmarillion (como Nurufantur
foi alterado para Námo (Mandos): embora o plural Fêanturi para esses dois
“irmãos” tenha sobrevivido no Valaquenta). Essas discussões de olos, olor
claramente devem estar ligadas ao trecho do Valaquenta (O Silmarillion, p. 22)
em que se diz que Olórin habitava em Lórien em Valinor, e que embora ele amasse
os elfos, caminhava invisível em seu meio ou na forma de um deles, e eles não
sabiam de onde vinham as belas visões ou as sugestões de sabedoria que ele instigava em seus corações. Numa versão anterior desse trecho consta que
Olórin era “conselheiro de Irmo”, e que no coração daqueles que o escutavam
despertavam pensamentos “de coisas belas que ainda não haviam existido, mas
podiam ainda ser feitas para o enriquecimento de Arda”. Há uma longa nota para
elucidar o trecho em As Duas Torres, IV. V, em que Faramir, em Henneth Annûn.
contou que Gandalf dissera: Tenho muitos nomes em diferentes lugares.
Mithrandir entre os elfos, Tharkûn para os anões; eu era Olórin em minha
juventude no Ocidente que está esquecido; no sul, Incánus, no norte, Gandalf;
para o leste eu nunca vou. Esta nota é anterior à publicação da segunda edição
do Senhor dos Anéis em 1966, e diz o seguinte: A data da chegada de Gandalf é
incerta. Ele veio de além do Mar, aparentemente mais ou menos ao mesmo tempo em
que se notaram os primeiros sinais do ressurgimento da “Sombra”: a reaparição e
a difusão de criaturas malignas. Mas ele raramente é mencionado em quaisquer
anais ou registos durante o segundo milénio da Terceira Era. Provavelmente
vagueou por muito tempo (com vários aspectos), não empenhado em feitos e
acontecimentos, mas em explorar o coração dos elfos e homens que haviam estado
e ainda se podia esperar estivessem opostos a Sauron. Está preservada sua
própria afirmativa (ou uma versão dela, e de qualquer maneira não plenamente
compreendida) de que seu nome na juventude era Olórin no Ocidente, mas era
chamado de Mithrandir pelos elfos (Caminheiro Cinzento), Tharkûn pelos anões
(que alegadamente significava “Homem do Cajado”), Incánus no sul, e Gandalf no
norte, mas “para o leste eu nunca vou”. “O Ocidente” aqui claramente significa
o Extremo Oeste além do Mar, não parte da Terra-média; o nome Olórin é de forma
alto-élfica. “O norte” deve referir-se às regiões do noroeste da Terra-média,
onde a maioria dos habitantes ou povos falantes eram, e permaneciam,
incorruptos por Morgoth ou Sauron. Nessas regiões seria mais forte a
resistência aos males deixados para trás pelo Inimigo, ou a seu servo Sauron,
caso este reaparecesse. Os limites dessa região eram naturalmente vagos; sua
fronteira leste era aproximadamente o Rio Carnen até sua junção com o Celduin
(o Rio Corrente), e além até Númen, e de lá rumo ao sul até os antigos confins
de Gondor Meridional. (Originariamente não excluía Mordor, que estava ocupada
por Sauron, mesmo que fora de seus reinos originais “no leste”, como ameaça
deliberada ao oeste e aos númenorianos.) “O norte” inclui portanto toda esta
grande área: uma fronteira imprecisa do oeste para o leste desde o Golfo de Lûn
até Númen, e do norte para o sul desde Carn Dûm até os limites meridionais da
antiga Gondor, entre esta e o Harad Próximo. Além de Númen, Gandalf jamais
fora. Esse trecho é a única prova que resta acerca da extensão de suas viagens
mais para o sul. Aragorn afirma ter chegado “às regiões distantes de Rhûn e
Harad, onde as estrelas são estranhas” (A Sociedade do Anel, II, II). Não é
necessário supor que Gandalf tenha feito o mesmo. Essas lendas são centradas no
norte — porque está representado como fato histórico que o combate contra
Morgoth e seus servos ocorreu principalmente no norte, e especialmente no
noroeste, da Terra-média, e isso foi assim porque o movimento dos elfos, e
depois dos homens escapando de Morgoth, fora inevitavelmente rumo ao oeste, na direcção do Reino Abençoado, e rumo ao noroeste porque naquele ponto as costas
da Terra-média estavam mais próximas de Aman. Harad “sul” é portanto um termo
vago; e, apesar de os homens de Númenor, antes de sua queda, terem explorado as
costas da Terra-média muito ao sul, suas povoações além de Umbar haviam sido
absorvidas, ou, tendo sido estabelecidas por homens que já em Númenor tinham
sido corrompidos por Sauron, haviam se tornado hostis e parte dos domínios de
Sauron. Mas as regiões meridionais em contacto com Gondor (e chamadas pelos
homens de Gondor simplesmente de Harad “sul”, Próximo ou Extremo) eram
provavelmente mais propensas a serem convertidos à “Resistência”, e também
lugares onde Sauron estava mais ocupado na Terceira Era, visto que eram para
ele uma fonte de mão-de-obra muito prontamente utilizada contra Gondor. Para
essas regiões, Gandalf pode muito bem ter viajado nos primeiros dias de suas
labutas. Mas sua principal província era o “norte”, e nele acima de tudo o
noroeste, Lindon, Eriador e os Vales do Anduin. Sua aliança era primariamente
com Elrond e os dúnedain do norte (Guardiões). Era-lhe peculiar seu amor e
conhecimento dos “Pequenos”, pois sua sabedoria tinha um presságio da
importância deles em última análise, e ao mesmo tempo percebia seu valor
inerente. Gondor atraía menos sua atenção, pela mesma razão que a tornava mais
interessante para Saruman: era um centro de conhecimento e poder. Seus
governantes, pela ascendência e todas as suas tradições, opunham-se
irrevogavelmente a Sauron, certamente do ponto de vista político: o reino de
Gondor erguia-se como ameaça a ele, e continuava a existir somente até onde e
até quando a ameaça de Sauron a eles pudesse ser enfrentada pelo poder armado.
Gandalf pouco podia fazer para guiar seus altivos governantes ou instruí-los, e
foi somente na decadência do seu poder, quando foram enobrecidos pela coragem e
pela perseverança no que parecia uma causa perdida, que ele começou a se
preocupar profundamente com eles. O nome Incánus é aparentemente “alienígena”,
isto é, nem westron nem élfico (sindarin ou quenya); nem é explicável pelos
idiomas remanescentes dos homens do norte. Uma nota no Livro do Thain diz que é
uma forma, adaptada ao quenya, de uma palavra do idioma dos Haradrim que
significa simplesmente “espião do norte” (Ink.ã + nus). Gandalf é uma
substituição, na narrativa em inglês, nas mesmas linhas do tratamento dado a
nomes dos hobbits e dos anões. É um nome nórdico verdadeiro (encontrado,
aplicado a um anão, em Voluspá), usado por mim por parecer conter gandr, um
cajado, especialmente um usado em “mágica”, e por ser possível supor que
signifique “indivíduo élfico com um cajado (mágico)”. Gandalf não era elfo, mas
pelos homens poderia ser associado com eles. visto que sua aliança e sua
amizade com eles eram bem conhecidas. Como o nome é associado com “o norte” em
geral, deve-se supor que Gandalf' represente um nome em westron, porém composto
de elementos não derivados dos idiomas élficos. Uma visão totalmente diferente
do significado das palavras de Gandalf “no sul, Incánus”, e da etimologia do
nome, aparece em uma nota escrita em 1967: É muito obscuro o que significava
“no sul”. Gandalf negou jamais ter visitado “o leste”, mas na verdade parece
ter limitado suas viagens e sua tutela às terras ocidentais, habitadas pelos
elfos e por povos em geral hostis a Sauron. De qualquer forma, parece
improvável que alguma vez tenha viajado ou permanecido bastante tempo no Harad
(ou Extremo Harad!) para lá ter adquirido um nome especial numa das línguas
alienígenas daquelas regiões pouco conhecidas. Assim, o sul deve significar
Gondor (no sentido mais amplo, as terras sob a suserania de Gondor no píncaro
do poder). À época do Conto, porém, encontramos Gandalf sempre chamado de
Mithrandir em Gondor (por homens de classe alta ou origem númenoriana, como
Denethor. Faramir etc). Isto é sindarin, e é dado como o nome usado pelos
elfos; mas os homens de classe alta em Gondor conheciam e usavam essa língua. O
nome “popular” em westron ou Língua Geral era evidentemente um com o
significado de “Manto-Cinzento”, mas como havia sido inventado muito tempo
atrás já possuía uma forma arcaica. Esta talvez esteja representada pelo
Capa-Cinzenta usado por Éomer em Rohan. Meu pai concluiu aqui que “no sul” se
referia a Gondor, e que Incánus era (como Olórin) um nome em quenya, porém
inventado em Gondor nos tempos antigos, quando o quenya ainda era muito usado
pelos eruditos e era a língua de muitos registos históricos, como havia sido
em Númenor. Gandalf, diz-se no Conto dos Anos, surgiu no oeste no início do
século XI da Terceira Era. Se presumirmos que ele primeiro visitou Gondor,
bastantes vezes e por tempo suficiente para ali adquirir um nome ou nomes —
digamos no reinado de Atanatar Alcarin, cerca de 1.800 anos antes da Guerra do
Anel —. seria possível tomar Incánus como um nome em quenya inventado para ele,
que mais tarde se tornou obsoleto e era lembrado apenas pelos eruditos. Com
base nessa suposição, é proposta uma etimologia a partir dos elementos quenya
in(id) “mente” e kan“soberano”, em especial em cáno. cánu, “soberano,
governador, chefe”(este último constitui o segundo elemento nos nomes Turgon e
Fingon). Nessa nota, meu pai referiu-se à palavra latina Incánus. “grisalho”,
de maneira a sugerir que esta fosse a origem real deste nome de Gandalf quando
O Senhor dos Anéis foi escrito, o que, caso verdadeiro, seria muito
surpreendente. E, ao final da discussão, observou que a coincidência de formas
entre o nome em quenya e a palavra latina deve ser vista como um “acidente”, do
mesmo modo que o sindarin Orthanc “elevação bifurcada”. por acaso coincide com
a palavra anglo-saxã Orthanc , “invenção astuciosa”, que é a tradução do nome
real na língua dos rohirrim.