O novo "Líder"
Sigmund Freud, no seu trabalho "Psicologia das Massas e Análise do Eu", disse que a inibição moral e a perspectiva do indivíduo podem ser destruídas aquando da massa ou da multidão. De acordo com Freud, pessoas numa multidão ou em massa ficam como se estivessem hipnotizadas: a pessoa torna-se mais infantil, e portanto mais parecida com um animal sob tais circunstâncias, e perde o poder para raciocinar críticamente. Usando o poder de sugestão em massa, uma nova perspectiva, baseada sob diferentes ideais pode então substituir valores que uma pessoa tenha previamente sustentado.
Freud disse que cada massa tem um líder, que cumpre a função de hipnotizador. Esse líder trabalhava como um instrumento de lavagem cerebral por causa de alguma necessidade inata do homem de ser guiado; isto simplesmente denunciava sua própria perspectiva oligárquica. Acreditava que o homem era um animal com duas pernas, e que aquele animalismo básico poderia ser induzido a algum tipo de manipulação nas situações de massa.
Freud está errado: o homem não é um animal; entretanto, ele pode, sob condições de psicose da massa, através das técnicas de lavagem cerebral da forma descrita, ser preparado para agir como se fosse um animal. A chave para a lavagem cerebral em massa é criar uma espécie de ambiente controlado e organizado no quail a tensão e o stress possam ser aplicados para derrubar moralmente o julgamento educado, tornando o indivíduo mais sensível à sugestão. Tais ambientes controlados são organizados de maneira a apelar para um emocionalismo torpe, sensualidade, e erotismo constantes - "emoções" que transformam o homem "em animal" - e não para as capacidades racionais do homem o que o diferenciam dos restantes animais. É este facto que faz a lavagem cerebral possível.
Para os "lavadores cerebrais", o que era exigido para um novo sistema de controle social da massa era uma forma de organizar uma atração em massa para o emocionalismo; quanto mais irresistível e totalmente abrangente esta atração, melhor. Quanto mais básica a população puder ser transformada, menor será a sua resistência para a sugestão e a manipulação.
Na televisão, eles encontraram a ferramenta para fazer este constante apelo ao infantilismo, organizado como alicerce da massa. Tem o potencial para penetrar em todos os lares, para alcançar cada indivíduo com um conjunto de mensagens e sugestões. Também tem a capacidade de através o controle e disseminação da informação, criar grandes ambientes controlados produzindo suas percepções dos eventos. A televisão é o novo "líder", o equivalente tecnológico de Hitler.
Escrevendo em 1972 com Eric Trist, primeiramente da Escola Wharton e agora da Universidade de Toronto e liderando a "lavandaria de cérebros" Tavistock, nos Estados Unidos, Fred Emery disse:
"Nós estamos sugerindo que a televisão invoca uma suposição básica de dependência. Deve invocá-la porque é essencialmente uma actividade emocional e irracional.... Televisão é o líder contínuo que oferece alimentação e proteção".
Emery e Trist relatam ao público o que nunca antes tinha sido revelado sobre a televisão e, descrevendo um manual de membro dos "lavadores de cérebros", relatam: "...o questionamento do papel da televisão tem sido colocado de lado de acordo com as regras para manter o seu papel como "líder" de modo dependente".
Eles observaram que toda televisão tem um efeito dissociativo sobre a capacidade mental, fazendo as pessoas ficar menos capazes de pensar racionalmente. Voltando aos estudos da experiência de Hitler, descobriram que isto confirma a tese de que "o líder seria louco ou um gênio, ainda que as mesmas pessoas sejam compelidas a acreditar que ele é um líder digno de confiança".
Emery e Trist, depois observarem cerca de vinte anos de lavagem cerebral da televisão, comentaram: "Por outras palavras, a televisão pode ser parcialmente vista como uma ferramenta tecnológica ao serviço do hipnotizador". Quanto mais você assiste, mais suscetível se torna a sugestões de seu líder, a televisão. "... Desvia você para fora da realidade e do tempo", escrevem Emery e Trist, comentando que a compreensão das conexões do tempo e da realidade são exigidas para um indivíduo raciocinar, e comportar-se coerentemente.
Observando os efeitos da assistência habitual da televisão, Emery e Trist citam estudos provando que causam danos neurológicos: "Nossa tese é que a televisão causa um hábito que pela qualidade e quantidade se assemelha a uma destruição das estruturas anatômicas críticas".
Relatam, entretanto, que o dano não é irreversível. Os problemas neurológicos podem ser eliminados dentro poucos dias parando as cerca de seis a oito horas de assistência diária. Os efeitos sobre a capacidade da razão e das estruturas de valores morais são mais difíceis de "eliminar".
"O homem pode (portanto) ser desviado do comportamento coerente de tal forma que é incapaz de se tornar consciente do seu prejuizo".
Turbulência social
Agora, nós estamos prontos para observar o que os "lavadores de cérebro" e os oligarcas que os tem empregados, tem reservado para você.
Muitos neo-Freudianos tem críticado Freud por apresentar um sistema excessivamente orientado biologicamente. Eles dizem que Freud falhou em compreender o papel do ambiente social na formação da personalidade individual. Uma nova psicologia social deve colocar enfâse no papel dos ambientes de tensão plena na formação da personalidade ou o "ego", produzindo regressão mais infantil, ou personalidades "id-semelhantes".
De acordo com a visão da personalidade sustentada por Emery e Trist de Tavistock, o ambiente social é tanto estável, em qualquer instante, se o povo fôr mais ou menos capaz de "enfrentar" aquilo o que está ocorrendo, ou é turbulento, em qualquer instante se o povo tanto age para libertar a tensão, ou se adapta para aceitar o ambiente de tensão plena. Se a turbulência não cessa, ou se se intensifica, então, num certo ponto, o povo suspende a capacidade de se adaptar de um modo positivo. Neste instante, dizem Emery e Trist, o povo torna-se maladaptado - eles escolhem uma resposta a tensão que degrada as suas vidas. Eles partem para reprimir a realidade, negando sua existência, e arquitetando progressivamente mais fantasias infantis que permitem enfrentá-la. Enquanto isso, suas vidas vão se tornando progressivamente piores, quando avaliadas por estruturas de valores de tempos passados; para evitar esta contradição, o povo, sob condições de aumento da turbulência social, muda os seus valores, ainda que para novos valores degradados, valores que são menos humanos e mais próximos do animal.
A citação mais parece um monte de palavras caras. O que eles querem dizer, num certo sentido é que indivíduos moralmente racionais, aculturados por 2000 anos de civilização cristã, não pensariam de tal forma. Eles rejeitariam escolhas bárbaras, então chamadas escolhas críticas, onde ninguém é bom. Eles procurariam a verdade, e procurando a verdade, encontrariam opções distantes das armadilhas mentais dos "lavadores de cérebros".
Quarenta anos passados, nossas respostas aos problemas, e nossa perspectiva moral eram diferentes. Você teria provavelmente rejeitado as espécies de escolhas críticas que são oferecidas hoje. Mas isto era antes da televisão: quarenta anos de televisão desgastaram a sua capacidade de fazer escolhas morais, e tem-no dirigido para escolhas críticas. Você tem seguido seu líder, a televisão, descendo um caminho para o inferno.
Examinando o inferno
Vinte anos atrás, os "lavadores de cérebros", Emery e Trist, mostraram alguns cenários para o futuro baseado sobre uma permanente condição de turbulência social. Pode haver um breve período de descanso, mas, de acordo com eles, o mundo se tornaria progressivamente mais caótico e violento.
Nas mãos daqueles com o poder de produzir politicamente - criar a turbulência social - o que eles tem escrito é um manual de utilização para um desejado "futuro". Foi preciso olhar o que eles produziram, antes de 1972, como sustentar uma operação de guerra psicológica, o conceito da lavagem cerebral em massa, além das doutrinas políticas de tais instituições como o Conselho para Relações Exteriores e a Comissão Trilateral. Foram para estas pessoas que eles escreveram.
Suas previsões - um período de contínua turbulência, especialmente turbulência econômica guiando-nos para um declínio econômico - tem suas consequências políticas nos CFR's (Projecto 1980), relatórios delineados nos meados dos anos setenta. Lá encontramos referência aos planos para "desintegração controlada" da economia Americana.
Em 1972, vinte anos de "ver" televisão nos Estados Unidos e na maioria do Ocidente tem deixado as populações com três cenários básicos (mal ajustados) de procedimentos com a tensão.
Um cenário é chamado de superficialidade. É a forma de retraimento psicológico, uma tentativa para simplificar as coisas. Tensão, dizem Emery e Trist, faz o homem desejar escapar, livre dos valores emocionais anteriormente identificados como opções. Uma pessoa reduz o "valor dos seus objetivos, baixando o investimento emocional aos termos que está sendo perseguido, se seus objetivos são pessoalmente ou socialmente de finalidades compartilhadas... Esta estratégia pode ser facilmente obtida negando as raizes profundas da humanidade que unem as pessoas, ao mesmo tempo que a um nível pessoal a psique individual é negada".
Emery e Trist, escrevendo na era do conflito do Vietname, apontam para rebelião da penetração da droga na "juventude em flor" como um exemplo deste cenário. Lutando numa guerra brutal e progressivamente sem sentido, a velha geração começa básicamente aceitar a decadência moral da cultura da droga de seus filhos, em vez de procurar o conflito. A sociedade como um todo aceita o padrão moral mais baixo, situado como um valor mais alto.
Citando o filosofo da Escola de Frankfurt, Herbert Marcuse, popularizado na contracultura dos anos sessenta, Emery e Trist diz que sob tais condições a escolha torna-se sem sentido. O que é importante é "o momento", e "a experiência momentânea transforma todos", estabelecem eles.
Transcrevendo de Marcuse em seu Homem uni-dimensional, Emery e Trist dizem que a sociedade moderna é então confrontada com "o caracter racional de sua irracionalidade".
A resposta da sociedade organizada a este processo é melhor identificada no Admirável Novo Mundo de Aldous Huxley - a sociedade controlada através de drogas, na qual não há escolha moral individual.
Eles identificam a contracultura dos anos sessenta como uma experiência pioneira para este cenário.
O segundo cenário envolve a segmentação da sociedade em pequenas partes, de um tamanho que possa ser mais facilmente capaz de enfrentar. "Há um realce do grupo que está por dentro e um preconceito contra o grupo que está por fora por parte de pessoas que procuram simplificar suas preferências", diz Emery e Trist. "A linha natural das divisões sociais emerge para se tornar uma barricada."
Neste cenário, é cada grupo - étnico, racial, sexual contra o outro. Nações dividem-se em grupos regionais, estas pequenas áreas por sua vez racham-se de maneira similar em pequenas áreas, juntando as etnias ou algo semelhante. É um cenário de uma violência incrível, mas uma violência associada a um objetivo de classes, na defesa individual de cada etnia ou outro grupo.
A resposta social organizada para tal desintegração política e psicológica é o estado fascista de Orwell, modelado no livro de George Orwell "1984". No livro, os indivíduos apelam para o "Grande Irmão" regular suas vidas e conflitos entre as várias castas dentro da sociedade. Um contínuo conflito entre três superpoderes, escreve Orwell, é "empreendido por um grupo dirigente contra seus próprios subjugados, e o objetivo da guerra não é fazer ou evitar conquistas de território, mas manter a estrutura da sociedade intacta..."
Enquanto nada neste cenário Orweliano não é aceitável na sua forma plenamente organizada, ainda que o Nazismo pudesse agora ser repetido na sua forma exacta, Emery e Trist estabelecem que não há todavia paralelo óbvio entre a "Guerra fria" e a Orweliana "guerra de cada um contra todos"; eles comentam por outro lado que, com o colapso da Guerra fria, a capacidade para controlar um cenário de segmentação numa escala social, poderia também entrar em colapso.
O terceiro cenário é mais intenso, envolvendo uma retirada e refúgio "para dentro do mundo particular e uma retirada dos laços sociais, o que pode acarretar ser arrastado para dentro dos assuntos de outros". Emery e Trist advertem que a desagregação não é mais que uma declaração dogmática do "primeiro eu", do egoismo pessoal que se tornou a marca registrada dos anos 70 e 80. Temendo o terror que o rodeia, o indivíduo procura evitar completamente todas formas de perigo. Indivíduos procuram uma invisibilidadede modo a desaparecer gradualmente dentro de seus ambientes; eles não vêm nada nem ninguém, e então ninguém pode vê-los.
Os "lavadores de cérebros" comentam que a desagregação tem sempre sido a resposta da espécie para a vida numa cidade. As pessoas tendem a "olhar para outro lado", mesmo se estiverem caminhando na mesma direção, até mesmo as pessoas que viajam de metro tentam "permanecer invisíveis" na multidão.
Aqui nós podemos ver como Freud e outros previram acerca do comportamento das multidões ou massas de pessoas, mesmo em relação a certos tipos de experiências especialmente organizadas: uma das quais é a massa que está organizada em torno de apelos de emocionalismos, e que conduz para a regressão do indivíduo para um estado infantil da mente, para uma "liberdade" animal de expressão hendonística (doutrina que considera o prazer individual e imediato como único bem possível...). Emery e Trist descrevem um nível de desagregação tão grande que o indivíduo é reduzido a um animal. Ele retira-se do terror em volta dele, tal como um animal que se move pela calada, tenta desaparecer.
Com indivíduos retraídos para dentro de suas fantasias, suas mentes entorpecidas e "cérebros lavados" por suas televisões, os "lavadores de cérebros" previram que os homens estarão propensos a aceitar "a perversa desumanidade do homem para o homem que caracterizou o Nazismo" - não a estrutura do Estado nazista, mas a perspectiva moral da sociedade nazista.
Finalmente, a maioria das pessoas que se retraem até evitam ir a eventos esportivos ou a concertos de rock: têm tais experiências intermediadas através da televisão. É a televisão que "dá então o conforto" escrevem os "lavadores de cérebros".
Para sobreviver, tais indivíduos exigem o conforto de uma nova religião; as antigas formas religiosas, especialmente o Cristianismo Ocidental, exigem que o homem seja responsável pelos seus companheiros humanos. A nova forma religiosa, será uma forma de anarquismo místico, uma experiência religiosa muito parecida com as práticas satânicas do Nazismo e as visões de Carl Jung. Novamente, é a televisão que fornece a "cola social" que une as mentes da população para suas novas formas religiosas: E a televisão como líder, neste caso, o anti-cristo.
A Laranja Mecânica
A resposta social organizada para a desagregação, diz Emery e Trist, é uma sociedade descrita nas páginas da novela de Anthony Burgess "A Laranja Mecanica".
Neste livro, Burgess descreve uma sociedade, tornada controladamente demente. A maioria da população está engajada numa fútil "educação", um pouco engajada na destruição mental de trabalhadores comuns, e em alguma parte, há pessoas fugindo de tudo isto como se fosse um zoo louco.
Violência sem sentido está em toda a parte pelas ruas, levada a cabo por bandos de jovens que desejam ardentemente derramento de sangue. Na típica rua da Laranja Mecânica, um bando de drogados, adolescentes viciados bizarramente vestidos, agridem um homem idoso. Porque vem você aqui, diz um dos membros do bando; todos sabem se você vai para certas partes da cidade, será surrado e violentado.
Não há política para qualquer deles: Burgess assegura que seu "herói", Alex, repetidamente torna claro que é apolítico. Alex fala uma linguagem inventada pelo linguista Burgess, apropriada ao seu infantilismo; nunca é traduzido - o leitor é forçado a "aprender", quer por meio da descrição ou por "palavras pictóricas".
Burgess não proporciona qualquer tipo de explicação de como a sociedade tomou este rumo; não há guerra ou outra calamidade social citada.
A Laranja Mecânica retrata uma sociedade dominada por uma fúria de infantilidade animal. Os adultos desagregados não podem exercer autoridade moral sobre seus filhos, porque eles estão envolvidos com suas próprias fantasias infantis, induzida para eles pelos seus aparelhos de televisão. Embora eles assistam as reportagens de crimes diários, convencem-se que não são os meninos que estão fazendo isto.
Para Emery e Trist, a visão da Laranja Mecânica de Burgess é o estado Nazista sem a superestrutura. E a desordem organizada, sem nenhum controle moral.
É a força dos meios de comunicação em massa, o poder da televisão, entretanto, que está nos empurrando para a sociedade da Laranja Mecânica. A televisão, quando assistida habitualmente, induz à desagregação. Também fornece a tensão e imagens de violência para criar a forma da organização social da Laranja Mecânica. Sob olhar sempre presente, o líder, a televisão, transforma crianças em bestas semelhantes a Alex e pais em impotentes zeladores de bestas.
Dado o poder da televisão sobre a sociedade, todos tenderão no futuro a tornar-se mais anti- -sociáveis, muito semelhantes à Laranja Mecânica. Como o futuro de lavador de cérebro Hal Becker declarou já em 1981, "Orwell cometeu um grande erro no seu 1984". O Grande Irmão não necessita observar você, enquanto você o observa.